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Blog do Marcelo Alonso

Destrinchando seis clássicos do UFC 245

Neste sábado (14), a T-Mobile Arena, em Las Vegas, será o palco de uma das melhores edições do UFC em 2019. Além das três disputas de cinturão, o UFC 245 terá cinco brasileiros no card em lutas que podem definir representantes nacionais em três disputas de cinturão.

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Nas lutas que valem título, Amanda Nunes defenderá a coroa de maior lutadora de todos os tempos contra a holandesa Germaine de Randamie; na divisão dos penas, a revelação australiana Alexander Volkanovski tentará surpreender o campeão Max Holloway; e entre os meio-médios, o maior vilão do MMA na atualidade, Colby Covington, finalmente terá a chance de lutar pelo cinturão, contra o pesadelo nigeriano Kamaru Usman.

O esquadrão brasileiro será representado ainda por José Aldo, estreando no peso-galo contra Marlon Moraes; Viviane Araújo (luta contra a 2ª colocada do peso-mosca Jessica Eye) e Ketlen Vieira (enfrenta Irene Aldana). Os três vitoriosos podem carimbar uma vaga na próxima disputa de cinturão em suas respectivas categorias.

José Aldo pode sonhar com o cinturão no peso-galo?

Esta é a pergunta que intriga os fãs do esporte no mundo todo. Afinal de contas, qual será o impacto prático da perda de peso na performance do “campeão do povo” no sábado?

Sem dúvida alguma, o pior já passou. Depois de bater o limite dos galos hoje de manhã, Aldo conseguiu sua primeira grande vitória. A partir de agora começa a segunda guerra: o processo de reidratação até a luta. Segundo seu mestre André Pederneiras disse à equipe do Combate.com, a ideia é ganhar 9 Kg nas próximas 24h.

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Mas a resposta definitiva só será dada mesmo na terceira e definitiva batalha, no Octógono. E já que o objetivo de Aldo é lutar pelo cinturão, o UFC não aliviou neste primeiro teste. Antes de perder o título para Cejudo, naquele lutão de três rounds, Marlon Moraes venceu quatro dos mais duros lutadores da divisão (três deles no 1º round).    

Há de se levar em conta que quando o lutador muda inteiramente suas características físicas, ele precisa readaptar seu jogo. A perda de massa muscular impacta diretamente em valências importantes que definem o estilo de cada atleta, como capacidade de absorção de golpes, velocidade e poder de nocaute. Obviamente este processo de readaptação física e tática demanda tempo. Por isso vejo Marlon com um pequeno favoritismo neste combate.

Em favor do atleta da Nova União pesa sua história. E é em cima deste fator que vale formularmos uma outra pergunta: até que ponto o respeito e admiração de Marlon por uma lenda do esporte afetará em sua performance? Vale lembrar que, antes de ir morar nos EUA, o friburguense passou alguns meses treinando na Nova União, quando José Aldo não era apenas o rei de sua divisão, mas já era considerado entre os três maiores do esporte peso por peso. Na luta entre Renato Moicano e Aldo, por exemplo, vimos como este fator impactou a performance do atleta da ATT.

E por falar em ATT, depois de anos treinando em Nova York com Ricardo Cachorrão, Marlon decidiu seguir os passos do mestre Anderson França e do amigo Edson Barboza e se mudou para a Flórida, tendo feito todo o camp para esta luta na nova equipe.

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Em entrevistas recentes, Aldo se mostrou muito otimista declarando, inclusive, que esta descida de categoria o motivou a ponto de ter feito um dos melhores camps de sua carreira, algo inimaginável há dois anos quando o amazonense só falava em abandonar o MMA e migrar para o boxe.

Deixando de lado os possíveis efeitos colaterais, não há dúvidas de que este combate tem tudo para ser o melhor e mais técnico da noite. Ambos são especialistas na luta em pé, extremamente agressivos, precisos e com poder de nocaute. Aldo hoje tem um jogo mais baseado no boxe, enquanto Marlon é mais calcado no muay thai, alternando combinações de chutes e socos. Apesar de ambos serem faixas preta de jiu-jítsu, dificilmente levam os oponentes para o solo. Ou seja, esta luta tem todos os ingredientes para ser definida em pé e antes do 3º round.

Caso o amazonense vença, carimba imediatamente o passaporte para disputar o cinturão na nova divisão, contra Henry Cejudo. Mas caso Marlon saia vitorioso, provavelmente terá que fazer mais uma luta, permitindo que o vencedor de Petr Yan (#4) e Urijah Faber (#12), que fazem a primeira luta do card principal deste UFC 245, consiga a senha para lutar com Cejudo.

Amanda Nunes x Germaine de Randamie

Seis anos depois do primeiro confronto, em 2013, Amanda Nunes e Germaine de Randamie voltam a se enfrentar no Octógono. Desta vez valendo o cinturão dos galos do UFC. Assim como na primeira oportunidade, quando a brasileira venceu por nocaute técnico no 1º round (cotoveladas da montada), Amanda continua sendo ampla favorita. Principalmente depois de nocautear no 1º round Cris Cyborg e Holly Holm em suas últimas lutas. Mas obviamente a holandesa não é mais aquela campeã de kickboxing que fazia sua 7ª luta de MMA.

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Treinando na AKA, Randamie adicionou muitas armas a seu arsenal e se transformou numa lutadora extremamente tática e perigosa, conseguindo uma sequência de cinco vitórias. Se conseguir controlar a distância mantendo a luta da média para a longa, como fez com Holly Holm, Randamie pode surpreender contra-golpeando em cima dos ataques da brasileira e tentando levar a luta para a decisão. Mas sendo uma lutadora muito mais completa, Amanda tem mais possibilidades táticas para surpreender a holandesa. Se controlar a distância, mesclando entradas de quedas com o jogo de grade, a atleta da ATT tem tudo para definir o combate no solo, por nocaute ou finalização antes do 5º round.

Kamaru Usman x Colby Covington

Na luta principal da noite, o campeão Kamaru Usman põe seu cinturão em jogo contra o falastrão Colby Covington. Um confronto que colocará frente a frente os dois wrestlers mais dominantes da divisão e cujas semelhanças vão muito além da modalidade de origem. Ambos têm 16 lutas e 15 vitórias, começaram a lutar profissionalmente em 2012 e têm um jogo baseado em atleticismo e gás. Coincidentemente, ambos também venceram os brasileiros Demian Maia e Rafael dos Anjos. A única derrota de Colby foi para Warlley Alves (finalizado numa guilhotina no 1º round em 2015). O mesmo Warlley também lutou com Usman em 2016 e foi inteiramente dominado, perdendo em decisão unânime.

Mas são as diferenças que fizeram Usman e Colby rivais tão genuínos. Usman foi lançado pela Blackzilians; Colby representa a principal rival, ATT. Enquanto o nigeriano tem um estilo mais respeitoso, Coby partiu pelo caminho do trash talk. Muitas vezes “errando na mão”, como naquele episódio no qual chamou os brasileiros de animais imundos após vencer Demian em São Paulo. Aliás, a relação com o Brasil é um outro diferencial de ambos, uma vez que Usman é casado com uma brasileira, com quem tem uma filha. “Eu não fui criado para odiar ninguém, mas sem dúvida o que sinto pelo Colby é o mais próximo disso. Quero torturá-lo por quatro rounds e meio e depois nocauteá-lo”, disse Usman esta semana para Evelyn Rodrigues e Marcelo Russio no Combate.com. Ao responder a entrevista do rival, Colby subiu mais um tom em conversa com os jornalistas brasileiros. “Se tivesse uma palavra mais forte do que ódio provavelmente seria ideal para traduzir corretamente a minha relação com o Kamaru. Eu quero mandar esse cara para o hospital no sábado à noite e, se eu não fizer isso, não conseguirei me perdoar. Vou nocauteá-lo, o deixarei inconsciente no chão. Se fizer menos do que isso eu vou ficar desapontado”.

Deixando o jogo mental de lado, estilisticamente falando, ambos são wrestlers que melhoraram muito na parte em pé, mas continuam vencendo suas lutas baseados no atleticismo. Enquanto Colby traz muito volume e um gás muito acima da média, Usman tem 13 cm de vantagem na envergadura, além de maior poder de nocaute. Normalmente quando dois grandes grapplers se enfrentam a luta tende a transcorrer mais em pé. Se isto ocorrer, o nigeriano tem grande chances de sair na frente repetindo a atuação que vimos em sua última luta, quando roubou o cinturão de Tyron Woodley de maneira absolutamente dominante.

A grande questão é: como o campeão pretende neutralizar os ataques incessantes de Colby Covington? Vale lembrar que o atleta da ATT também vem de uma atuação espetacular vencendo cinco rounds de maneira absolutamente dominante em sua última luta contra o ex-campeão Robbie Lawler. Minha aposta é que a maior envergadura, pujança física e poder de nocaute de Usman sejam os diferenciais para que ele mantenha o cinturão. Mas se Colby conseguir sobreviver aos rounds iniciais, mantendo a pressão incessante nos últimos dois rounds, poderá virar a luta nas papeletas.

Max Holloway x Alexander Volkanovski

No peso-pena teremos outra disputa de cinturão no qual o campeão tem o favoritismo. Vindo de uma sequência de 14 vitórias na sua divisão, o havaiano Max Holloway enfrenta Alexander Volkanovski. O australiano vem de uma sequência de sete vitórias no UFC, sendo a penúltima delas um nocaute sobre Chad Mendes e a última uma vitória por pontos sobre José Aldo em pleno Rio de Janeiro (UFC 237).

Com um jogo calcado em força, wrestling e explosão, Volkanovski sem dúvida trará novos desafios para o campeão, que já enfileirou os maiores nomes da divisão, como Aldo (2x), Edgar e Ortega.

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Apesar de ser 13 cm mais baixo, Volkanovski tem maior envergadura, além de maior poder de nocaute, o que certamente trará emoção extra para o combate. Vale lembrar que a última derrota de Holloway ocorreu em abril, numa disputa pelo cinturão interino dos leves contra Dustin Poirier, onde os golpes na linha de cintura, a explosão e o maior poder de nocaute do atleta da ATT foram os diferenciais para que ele conseguisse a vitória. Três características que o australiano explora muito bem e as quais Holloway ainda não enfrentou nesta divisão.

As chances existem, mas quando se fala de um lutador acima da média como Max Holloway, que vem de vitórias com absoluta superioridade sobre dois outros campeões (Aldo e Edgar), não há como não reconhecer o favoritismo do havaiano em condições normais de temperatura e pressão (há pelo menos três lutas Holloway não tem problemas com a balança). Como slow starter que é, acredito que Max use o primeiro round para mapear a distância e “calibrar seu GPS”, impondo seu conhecido volume a partir do 2º round e dominando inteiramente as ações, vencendo por pontos ou nocaute técnico nos últimos rounds.

Ketlen Vieira e Viviane Araújo a um passo de lutar pelo cinturão

A amazonense Ketlen Vieira e a brasiliense Viviane Araújo são dois excelentes exemplos do quão democrático está o MMA hoje em dia. Há três anos ambas lutavam no circuito local no Brasil. Ketlen teve sua chance em 2016. De lá para cá, venceu suas quatro lutas e no sábado luta com Irene Aldana pela chance de disputar o cinturão peso-galo. Já Viviane teve uma ascensão ainda mais meteórica. Lutando no Pancrase no peso-átomo (48 Kg), foi convidada com poucos dias de antecedência para substituir a oponente de Talita Bernardo no UFC 237, no Rio, na categoria dos galos (até 61 Kg).

Após surpreender nocauteando Talita no 3º round, Viviane foi chamada dois meses depois para enfrentar a experiente Alex Davis no peso-mosca. Mais uma vez surpreendeu conseguindo uma vitória dominante, que lhe garantiu um salto no ranking do 15º para o 5º lugar. No próximo sábado, Viviane fará sua terceira luta no evento, contra a 2ª colocada do ranking, Jessica Eye. Caso vença, terá grandes chances de ser a próxima desafiante da campeã Valentina Shevchenko, que no dia 8 de fevereiro luta contra a atual número um do ranking, Katlyn Chookagian.

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Para vencerem, Viviane e Ketlen terão propostas táticas opostas no sábado. Enquanto a faixa-preta de judô precisa impor seu melhor jogo de quedas para neutralizar a boxer Irene Aldana, Viviane precisa evitar as quedas de Eye, usando sua velocidade e explosão para pontuar e dominar as ações sobre a norte-americana. Caso vençam, as brasileiras podem lutar pelo cinturão na sequência, ou talvez, por uma questão de timing, precisem fazer mais uma luta. Algo que, se ocorrer, certamente deve estar sendo encarado positivamente pelos seus treinadores, afinal de contas, as atuais campeãs do peso-mosca (Shevchenko) e galo (Amanda Nunes) são as melhores lutadoras da atualidade, não por acaso, as únicas representantes femininas que figuram no ranking pound for pound. Quanto mais tempo tiverem para evoluir e afiar suas armas, mais longe estas duas representantes da nova geração do MMA nacional podem chegar.

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