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Resenha UFC 196, por Alexandre Matos

Alexandre Matos é fã de todos os esportes de combate e fundador do site MMA Brasil. Ele estará aqui toda semana para comentar e palpitar os eventos.

Não sei quanto a vocês, mas eu só consegui dormir quase às 6h da manhã de domingo. "Culpa" de Nate Diaz, Miesha Tate, seus corações e mata-leões. As lutas principais do UFC 196 entregaram um pouco de quase tudo e fizeram do sábado um grande dia para ser fã de MMA.
No combate mais importante da noite, Conor McGregor mais uma vez mostrou porque é um dos lutadores mais perigosos do MMA atual quando está postado na troca de golpes em pé. O irlandês domina a distância de um jeito pouco comum, usando a falsa distância, que é a situação em que o lutador parece estar longe do adversário quando o referencial é o punho da frente, mas o pé dianteiro, adiantado, faz com que ele acerte o oponente apenas com um rápido giro de quadril. E o irlandês gera muita potência a partir dessa situação.
Esta característica foi fundamental para garantir o primeiro round para McGregor, que acertou alguns muitos socos de alta potência, amassando e abrindo cortes no rosto de Diaz, que chegou a tentar uma queda para variar o jogo, mas acabou debaixo de ground and pound, sem conseguir trabalhar o jiu-jítsu. Porém, o americano nunca deixou de avançar, como se os golpes do europeu, que derrubariam praticamente qualquer peso-pena, não fizessem o mesmo estrago num atleta muito maior. Foi aí que a luta mudou.

 
No segundo assalto, McGregor seguiu na mesma tática e até certo ponto parecia aumentar a vantagem, mas desperdiçou energia ao tentar lançar todos os golpes com intenção de nocaute. Quando o primeiro direto de esquerda de Nate explodiu em seu rosto, Conor reagiu mal. A situação deu moral a Diaz, que finalmente botou pra jogo sua principal característica, o boxe em alto volume e ângulos pouco ortodoxos. O bad boy de Stockton quebrou o ritmo de McGregor, tirou sangue do rosto do campeão dos penas, deu tapa na cara e fez com que ele se desesperasse. Numa tomada de decisão muito ruim, Conor se atirou sobre as pernas de Nate, que levou a luta para o chão, exatamente onde sua vantagem seria maior. Transição, montada, ground and pound. Diaz pegou as costas e encaixou o mata-leão. McGregor tentou se defender, mas estava cansado, com um camarada bem mais pesado em suas costas. O irlandês teve que batucar.

Hail Mary garante o título do peso-galo feminino a Miesha Tate 
A disputa do cinturão do peso galo feminino teve várias histórias dentro de uma só. Teve a então campeã Holly Holm à vontade, depois em perigo, depois conservadora, depois não mais campeã. E teve uma desafiante tenaz, que nunca se entregou e que daria à "Filha do Pastor" um duelo de estilos diferente do que Ronda Rousey tentara em novembro. Foi o que ela fez.


O primeiro round foi estratégico, de poucas ações contundentes. Miesha respeitou muito o retrospecto de Holm no boxe (além da destruição de Ronda) e acabou sem conseguir quebrar a distância, o que só seria feito com velocidade. Usando socos e chutes alongados fazendo valer a vantagem na envergadura, Holly controlou as ações e venceu tranquilamente o primeiro assalto.
Agora você pega o parágrafo acima e esquece, porque o segundo round foi uma história absolutamente diferente. Percebendo que Holm estava relaxada, navegando em céu de brigadeiro, o estilo touro enfurecido de Tate deu as caras. A wrestler mudou a abordagem e, com velocidade, conseguiu suplantar a defesa de quedas da campeã. Aqui se mostrou a principal diferença entre se defender das quedas de Ronda e das de Miesha. A primeira avança em linha reta e entra com o corpo mais ereto, o que facilita a saída de boxeadores que usam o pivô (quando se gira a 90° em relação ao pé de apoio). A oponente deste sábado entrou com o tronco arqueado, em trajetória irregular, visando as pernas. Deste modo, Tate derrubou, caiu por cima, bateu no ground and Pound e aproveitou um erro de Holm para pegar as costas e encaixar o mata-leão. O estrangulamento estava bem encaixado, mas Holly foi resistente e se safou. No entanto, perdeu o round por 10-8, viu Tate virar para 19-18 e, mais do que isso, deu um caminho para a desafiante.
Pelos 10 minutos seguintes, Holm voltou ao controle que mostrou no primeiro round, mas agora variando mais as combinações, usando mais os chutes, e virou a luta para 38-37. O duelo entrou na última parcial parecendo que se encaminhava a uma defesa de cinturão tranquila. E assim as ações se seguiram até Tate novamente perceber que Holm voltara a diminuir o ritmo, quando deveria acelerar para impedir um ataque final – estamos falando aqui de um esporte em que tudo pode mudar em um segundo. Contra uma guerreira que não desiste, isso não se faz. 
(Hail Mary: jargão do futebol americano que explica uma jogada em que o quarterback faz um lançamento longo, alto, no desespero, visando um touchdown salvador no último segundo de jogo. Normalmente dá errado).


Sem condições técnicas de encarar a batalha trocando golpes em pé, Tate lançou um hail mary. Com o jogo perdido, ela se lançou sobre Holm e conseguiu a queda diante da passividade da adversária. Com a lição do segundo round aprendida, Miesha nem perdeu tempo para pegar as costas e encaixar o mata-leão. Holm tentou se levantar com a adversária mochilada e errou ao tentar projetá-la para frente. Miesha caiu com o estrangulamento ainda mais preso e não houve alternativa a Holm senão se render e entregar o cinturão a 90 segundos do final do combate. 
Quedas e ground and Pound dão vitória a Amanda Nunes
No confronto que abriu o card principal, Amanda Nunes tinha uma missão: mostrar que tem gás para mais de um round a fim de se posicionar como uma real candidata a desafiante do peso galo feminino. A baiana teve 100% de evolução – durou dois rounds –, mas quase colocou tudo a perder porque a luta tinha três.

 
Amanda demorou a encontrar a distância no começo um tanto conservador, algo compreensível contra uma striker com as credenciais de Valentina Schevchenko. O primeiro assalto foi morno e decidido por uma queda da brasileira no final. Já o segundo foi diferente. As duas voltaram mais ativas e Nunes aproveitou um chute bloqueado para derrubar, cair por cima e aplicar uma sonora escovada na quirguiz. Foram socos e cotoveladas a milhão, além de uma tentativa de mata-leão. Amanda marcou 10-8 e abriu 20-17, fora o baile.
Foi aí que o velho problema apareceu. Mais tarde que o normal, mas que quase custou a vitória da brasileira. Cansada, Amanda foi alvejada por uma dura cotovelada em pé, tentou uma queda e acabou contra-atacada, caindo por baixo. Aí foi a vez de Schevchenko usar o ground and pound e arriscar uma finalização, mas a “Leoa” resistiu e saiu com a vitória por decisão unânime. Dois juízes oficiais marcaram o mesmo 29-27 que eu vi, mas outro foi burocrático e deu 29-28 para Amanda, anotando 10-9 no segundo assalto. 
Erick Silva cai nocauteado depois de insistir em tática errada
Depois de vencer oficialmente duas lutas seguidas pela primeira vez no UFC, Erick Silva perdeu duas consecutivas também pela primeira vez. O algoz agora foi o canadense Nordine Taleb.

 
Mais explosivo e potente, Erick tentou atrair o rival para a pancadaria, mas Taleb não caiu na armadilha e se postou na longa distância, fugindo de sua característica principal de chegar ao clinch. O brasileiro aplicou três chutes fortes na perna dianteira do ex-TUF e logo depois cometeu o erro que viria a ser capital mais adiante: aplicou um chute frontal despretensioso, que Taleb bloqueou e o derrubou. No segundo assalto, outro chute frontal foi respondido com um duro direto de direita. Erick repetiu o movimento, contra a vontade de seu córner, e desta vez pagou caro. Taleb agarrou o chute que visava sua linha de cintura e largou o direto que explodiu contra a testa do capixaba com rara felicidade. Erick desabou desacordado com o rosto no chão. 
Vitor Miranda mostra poder do muay thai contra Marcelo Guimarães 
De um lado, um campeão de muay thai que venceu duas etapas do K-1. Do outro, um faixa-preta de jiu-jítsu com títulos de wrestling tanto no estilo livre quanto no greco-romano. Lembra do papo de impor sua vontade? Então, a do striker decidiu a parada. 
Marcelo tentou apostar no clinch e no jogo de abafa, conseguiu aplicar uma queda, mas Vitor quicou e voltou em pé. Em seguida, Marcelo grudou Vitor na grade e, quando se abaixou para derrubar, levou uma bateria de cotoveladas na cabeça.  Ainda houve tempo de Miranda machucar o adversário com uma combinação de socos no finalzinho do assalto inicial.


A diferença técnica na troca de golpes em pé ficou ainda mais latente no segundo round. O thai clinch e a defesa de quedas de Miranda minaram a tática de Guimarães. Vitor voltou a atacar com cotoveladas, se afastou e largou um chute alto perfeito, que mandou Marcelo tonto para a grade. O representante do Team Nogueira se aproximou e encerrou a contenda com dois pesados socos que nocautearam o “Magrão” em pé.

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