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Atletas

Amanda Nunes faz história

“Esse é o momento pelo qual eu esperei. Fazer história, ser feliz comigo mesma, ser feliz com o que sou capaz. Estou feliz. É a única palavra que tenho nesse momento”

O respeito vem de diferentes formas. No mundo da luta, isso geralmente significa que um confronto entre dois campeões no Octógono resulta em um duelo de xadrez em que nenhum lutador está disposto a correr o risco de cometer um erro com tanto em jogo.

Existem exceções. Como Amanda Nunes e Cris Cyborg.

No último sábado em Los Angeles, Cyborg colocou o título peso-pena do UFC e sua aura de invencibilidade em jogo contra a campeã peso-galo Amanda Nunes em uma verdadeira superluta, a qual muitos acreditavam que determinaria a maior lutadora de MMA da história.

Cyborg, campeã do UFC, Strikeforce e Invicta FC, que estava invicta há 13 anos, não tinha intenção de entrar nesse debate antes da luta, preferindo deixar imprensa e fãs decidirem este título. Amanda era uma história diferente. Ela queria dois cinturões, a história e a designação de melhor de todos os tempos desde o momento em que mandou uma mensagem para o presidente do UFC Dana White pedindo pelo duelo.

“Quero essa luta”, disse Amanda a White, “Faça essa luta acontecer por mim, por favor”.

E ele fez, mas são necessárias duas pessoas para ter uma luta, e enquanto a luta co-principal do UFC 232 durou apenas 51 segundos, foi um lembrete do que pode acontecer quando duas das melhores se enfrentam para manter esse status;

Não houve observação, postura e recusa em atacar. Foi a maior prova de respeito. Assim que o árbitro Marc Goddard deu o sinal, estava valendo, do jeito que Amanda queria.

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Amanda atacou, Cyborg contra-atacou e conectou, e foi assim, socos voando até que Nunes encaixou uma direita que fez Cris ajoelhar.

“Quando conectei meu primeiro golpe, sabia que ela havia sentido e pensei, ‘Imagine se eu conectar o próximo’”, recorda a baiana.

Conforme o público reagiu, seria o momento perfeito para Cyborg tentar o clinch ou uma queda. Mas ela não queria saber disso. Ela foi criada na Chute Boxe. Quando um atleta da Chute Boxe é acertado, ele tenta revidar. É simples assim. Amanda sabia disso e abraçou essa realidade.

Amanda Nunes comemora a vitória sobre Cris Cyborg no UFC 232, que lhe rendeu o cinturão peso-pena do Ultimate, no último dia 29 de dezembro.


“Quando você acerta ela, ela vai à loucura e tenta te matar”, disse Nunes, “Foi isso que aconteceu, e essa foi a chave da luta. Fazer ela enlouquecer e ir para frente”.

Cyborg continuou marchando adiante, continuou arremessando seus golpes, mas Amanda esteve sempre um passo à frente. Rápida, precisa, no alvo.

“Distância e velocidade foram chaves”, disse, “Sabia que precisava ser rápida e inteligente”.

Logo, tudo acabou. Amanda Nunes era a dupla-campeã. E apesar de ser perigoso falar sobre a melhor de todos os tempos enquanto uma atleta ainda está em atividade, vitórias sobre Cyborg, Ronda Rousey, Miesha Tate, Valentina Shevchenko (duas vezes) e Germaine de Randamie fazem o caso da “Leoa” bem mais fácil.

“Estou muito feliz”, disse ela na coletiva de imprensa após a luta, “Hoje à noite eu consegui mais uma vez. É incrível”.

A alegria era evidente no Octógono e na coletiva, onde seu sorriso brilhava mais que os dois cinturões que levava consigo. Foi um momento oposto dos dias após sua derrota para Cat Zingano em 2014, sua primeira derrota no UFC, quando muitos começaram a se perguntar se ela seria uma atleta incapaz de lidar com três ou cinco rounds intensos. A baiana sabia que tinha o necessário; ela só precisava fazer alguns ajustes em seus treinos.

“Aquela luta foi muito importante para mim”, disse, “A luta com Cat Zingano me ajudou muito. Para me tornar quem sou hoje, aquela luta precisava acontecer”.

As lições foram claras.

“Ser mais calma, mais confiante, treinar de forma mais inteligente”.

Desde então, ela não perdeu mais, uma campanha de oito vitórias seguidas que incluem seis por nocaute ou finalização, dois títulos, três defesas do cinturão peso-galo e quatro bônus de Performance da Noite. Tudo porque ela se atreveu a ser a maior. O mesmo fez Cyborg, e essa derrota não deve atrapalhar seu legado. Pelo menos, não afeta a opinião de Amanda sobre a compatriota.

“Ela é forte, poderosa, foi uma grande campeã”, disse a baiana, “Tenho muito respeito pela Cris, mas eu sabia que essa noite seria minha”.

Foi a noite dela. E aposto que Amanda ainda não parou de sorrir.

“Esse é o momento pelo qual eu esperei”, disse, “Fazer história, ser feliz comigo mesma, ser feliz com o que sou capaz. Estou feliz. É a única palavra que tenho neste momento”.

Eu tenho outra: respeito.