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Atletas melhoram desempenho com placebo – mesmo sabendo que estão tomando suplemento sem efeito

Para pesquisador Bruno Gualano, da USP, em alguns casos o efeito benéfico do placebo é comparável ao do próprio suplemento

Certo dia, uma médica do esporte foi procurada por uma equipe de um lutador profissional de MMA – cujos nomes serão mantidos sob sigilo. Ele apresentava uma abrupta queda de desempenho depois de parar de usar esteroides anabolizantes, coisa que havia feito durante muito tempo.

O objetivo era interromper o ciclo de derrotas do atleta e retomar a performance que ele apresentava, mas de uma forma limpa. A médica falou para o lutador que tinha trazido dos Estados Unidos uma nova droga anabólica, mas que era segura e não dopante.

Uma vez por semana, durante dois meses, o atleta recebeu injeções dela. O que ele e a equipe não sabiam era que o tal medicamento era uma solução salina – inerte, sem nenhum efeito.

"De tão impressionada com a melhora de resultado no desempenho do atleta, a equipe suspeitava que o lutador havia sucumbido novamente ao uso de esteroides anabolizantes."

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Segundo Bruno, o placebo aberto (ou honesto) é o uso de uma intervenção inerte com o consentimento do sujeito que a recebe. “Nessa condição, elimina-se a expectativa do indivíduo em receber uma intervenção ‘ativa’ e, ainda assim, efeitos genuínos podem ser observados. Estudos prévios com pacientes com síndrome do intestino irritável e câncer, por exemplo, reportaram melhoras em sintomas específicos, geralmente de ordem subjetiva, como fadiga e dor.”

Por que isso acontece? Ninguém ainda sabe ao certo e é preciso mais estudos a respeito, mas Bruno se vale da explicação do professor de fisiologia e neurociência Fabrizio Benedetti, da Faculdade de Medicina da Universidade de Turim, Itália, um dos maiores estudiosos do tema, sobre como o efeito placebo poderia se manifestar apesar da ausência de expectativa.

“Imagine um filme de terror. Nós, adultos, sabemos que tudo é ilusório, encenado: o sangue, a maquiagem, a trama. Mesmo assim, boa parte de nós sentimo-nos assustados, amedrontados e impactados com as boas cenas”, afirma ele. “Os mecanismos cerebrais que evocam essas reações ao efeito placebo – aberto ou tradicional – vêm sendo estudados, mas ainda são pouco compreendidos.”

Bruno diz que a decisão de focar no placebo no esporte veio quase como uma consequência dos estudos de seu grupo de pesquisa, que se dedica há muitos anos a suplementos nutricionais. “Em nossas pesquisas, temos, geralmente, um grupo que recebe a intervenção ‘ativa’, o suplemento, e outro que recebe a ‘inerte’, ou o placebo”, explica.

"Em alguns casos, o efeito benéfico do placebo é comparável ao do próprio suplemento."