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Como é lutar fraturado

Rodrigo Minotauro, que já entrou em combate com dois cotovelos quebrados, descreve a sensação que Thiago Marreta teve ao tentar o cinturão de Jon Jones

Embaixador do UFC no Brasil, o ex-lutador Rodrigo Minotauro reviveu uma sensação dolorida quando assistia – e comentava ao vivo no Canal Combate – a luta de Thiago Marreta pelo cinturão dos meio-pesados contra o campeão Jon Jones, no sábado passado em Las Vegas.

O atleta machucou o joelho esquerdo ainda no primeiro round e, sem nem pensar em desistir, continuou no combate por mais quatro assaltos. No fim dele, passou por uma ressonância magnética que apontou rompimento do ligamento cruzado, rompimento do menisco e fratura na tíbia.

Marreta deve passar por uma cirurgia em Los Angeles na semana que vem e, depois, ficar no Instituto de Performance do UFC por um mês, fazendo fisioterapia. Para se recuperar completamente, Thiago deve levar entre oito meses e um ano.

Ao ver a luta de Marreta e suas limitações de movimento por causa da lesão, Rodrigo Minotauro lembrou-se de já ter passado por isso. “É difícil eu saber a luta que eu fiz em que não estava quebrado”, brinca o ex-atleta ao me atender. Ele está, aliás, na fisioterapia – no Instituto Takara Performance, em Moema, zona sul de São Paulo, tratamento justamente de um espasmo na coluna.

Quando venceu Bob Sapp, no Pride em 2002, Minotauro estava com “a coluna bem, bem, bem machucada”, ele conta. No mesmo ano, quando venceu Dan Henderson, estava com 40 graus de febre e havia passado a noite anterior no hospital. Na disputa de cinturão com Mirko Cro Crop, em 2003, tinha uma fratura no cotovelo.

Contra Pawel Nastula, em 2005 pelo mesmo evento, ele tinha os dois cotovelos fraturados. No segundo combate com Frank Mir, pelo UFC em 2011, ele havia lesionado os ombros pouco tempo antes. Em 2012, fraturou a costela antes da luta contra Dave Herman, no Rio de Janeiro. Contra Roy Nelson, em 2014, o cruzado anterior estava rompido.
 

Rodrigo Minotauro após sofrer uma lesão no ombro em duelo contra Frank Mir, em 2011


“Quando estamos lesionados, nossa preocupação na luta é o adversário bater justamente em cima da lesão”, ele conta. “Quando é uma lesão muscular ou de ligamento, no calor do combate você até para de sentir a dor. Aprendemos a ser resistentes a ela. Mas tudo fica mais difícil se a lesão abala nosso equilíbrio, como foi o caso da que Marreta sofreu, porque interfere na distância que você tem que manter do adversário, no ir e vir, no ato de sair da situação de nocaute. E também limita seu ataque, o que é muito frustrante.”

No caso de uma lesão óssea, como a da tíbia de Thiago Marreta, o desconforto é forte e constante. “A dor está ali o tempo todo, não tem como parar de sentir. Às vezes pega mais, às vezes menos, mas não para”, conta Minotauro. “Milhões de coisas passam na nossa cabeça no momento em que percebemos que nos machucamos. E, em lutas como essa, que são as lutas de nossa vida, não existe outra opção a não ser continuar lutando.”

“A lesão prejudicou demais Marreta. Ele era o cara certo para ganhar de Jon Jones”, acredita o embaixador do UFC. “Ele entra no ataque muito rápido e cruza a perna ao entrar, o que atrapalha o adversário. O jeito de andar dele confunde um cara muito técnico como Jones. Ele tinha o ataque certo para vencer essa luta. Mas isso prejudicou muito seus movimentos.”

Minotauro diz – não como representante do UFC, porque, segundo ele, essa não é uma decisão sua, é apenas uma opinião – que Marreta merece uma revanche. Mas ele não acha que uma revanche imediata pode ser a melhor opção. “Como ele deve ficar muito tempo se recuperando, talvez uma outra luta antes faça mais sentido, porque ele pode voltar ao ritmo.”

Para o embaixador do UFC, o que Thiago Marreta fez no Octógono foi pura bravura. “Ele foi um herói. Fazer o que fez contra o maior atleta da atualidade, e ainda naquelas condições, é heroico. Eu já o admirava, mas passei a admirar ainda mais. Em certo aspecto, ele ganhou até mais do que o título. Marreta ganhou o respeito das pessoas.”