Pular para o conteúdo principal
Blog do Marcelo Alonso

Deiveson Figueiredo e os reflexos da falha na balança

Depois de cumprir o compromisso com a balança em todas as sete lutas que fez no UFC, Deiveson Figueiredo ficou mais de 1 Kg acima do limite do peso-mosca exatamente na luta mais importante de sua vida, aquela que valeria o cinturão do maior evento de MMA do mundo.

Por não cumprir o contrato que assinou com o UFC, o paraense pagará uma multa referente a 30% de sua bolsa ao oponente, Joseph Benavidez que, em caso de vitória neste sábado, sairá do UFC Norfolk como novo campeão peso-mosca do UFC.

Mais UFC NorfolkComo Assistir | Card Completo

Obviamente, esta não é a primeira vez que isso ocorre. O cubano Yoel Romero falhou duas vezes (contra Luke Rockhold no UFC 221 e Robert Whitaker e no UFC 225); Anthony Pettis também (contra Max Holloway no UFC 148); além de Joe Riggs (contra Matt Hughes no UFC 56) e Travis Lutter (contra Anderson Silva no UFC 67). Por não cumprirem suas obrigações com a balança, todos eles acabaram lutando sem valer o título, assim como fará Deiveson.

O fato é que no atual patamar em que o esporte chegou em 2020, ano em que o UFC completa 27 anos de existência, e os profissionais já podem contar com o apoio gratuito de preparadores físicos e nutricionistas do Instituto de Performance do UFC em Las Vegas, não é possível que fatos como este continuem sendo encarados com normalidade.

Nos últimos dois anos, ocorreu uma clara redução nos problemas com perda de peso em consequência basicamente de duas iniciativas. Além de as comissões atléticas passarem a fazer um acompanhamento mais próximo do processo de perda de peso daqueles atletas mais problemáticos, os testes físicos feitos em vários lutadores do UFC demonstraram que eles teriam um rendimento muito melhor se passassem a lutar mais próximos de seu peso real. Os dados científicos foram comprovados na prática quando diversos atletas decidiram subir de categoria. Este processo resultou num salto qualitativo marcante na história do esporte no que diz respeito à saúde dos atletas. Quando viram Thiago Marreta, Rafael Dos Anjos, Kelvin Gastelum, Dustin Poirier, Henry Cejudo, Daniel Cormier e tantos outros nomes performando melhor na divisão de cima, dezenas de lutadores decidiram seguir o mesmo caminho, diminuindo muito os casos de falha na balança.

Três UFC’s críticos em sequência

O caso de Deiveson Figueiredo, porém, serviu para nos lembrar que o problema ainda existe e precisa continuar a ser combatido. Se é estatisticamente comprovado que os atletas que não batem o peso vencem mais lutas, não seria justo discutir um aumento na penalização? Afinal de contas, não deixa de ser interessante para o atleta pagar uma multa de 30% se ele ainda pode receber 50% de bônus pela vitória. Sou da opinião que o atleta faltoso precisa sentir no bolso e na prática. Ou seja, além de perder o bônus pela vitória aquele que passar 1 Kg do limite poderia ter que entrar na luta com um ponto a menos. E caso passe 2 Kg, que perca dois pontos. Esta medida tem sido aplicada em eventos como o Jungle Fight, por exemplo, e tem trazido bons resultados.

Este, aliás, seria um excelente momento para iniciar um debate sobre o assunto, afinal de contas as próximas três edições numeradas do UFC terão atletas problemáticos encabeçando os cards: No dia 7 de março, no UFC 248, o “famigerado” Yoel Romero lutará com Israel Adesanya pelo cinturão dos médios; no dia 18 de abril, será a vez de Khabib Nurmagomedov e Tony Ferguson lutarem pelo cinturão peso-leve, nesta que será a quinta tentativa do UFC de casar o clássico mais “zicado” da história do evento. Na seqüência, no dia 9 de maio, rumores indicam que será a vez de José Aldo tentar novamente bater o limite do peso-galo para roubar o cinturão do campeão Henry Cejudo no UFC 250, em São Paulo.

Há chances de o UFC extinguir a divisão dos moscas?

E por falar em Henry Cejudo, a extinção da categoria mosca é um assunto que pode voltar a fazer sentido caso o brasileiro Deiveson Figueiredo vença com propriedade (nocaute ou finalização) Joseph Benavidez. Da mesma maneira que a vitória de Henry Cejudo sobre o campeão dos galos TJ Dillashaw, em janeiro de 2019, garantiu uma sobrevida para a divisão, uma luta épica no sábado ou uma vitória de Benavidez sobre Deiveson, seriam os dois resultados mais desejados para que esta categoria continue fazendo sentido para o UFC.

Algo que seria ótima para o esporte, afinal de contas poucas divisões proporcionam lutas tão dinâmicas e técnicas como esta. Além do mais, o Brasil tem cinco lutadores entre os Top 15 (Deiveson, Jussier Formiga, Alexandre Pantoja, Rogério Bontorin e Raulian Paiva). Nomes que obviamente poderiam ser absorvidos na divisão dos galos, mas que certamente não teriam a mesma capacidade competitiva.

Então fica a torcida para que Deiveson e Benavidez façam uma luta histórica, daquelas que deixam no fã aquele desejo de ver uma reprise. E quem sabe, nesta revanche, sem problemas com a balança, e valendo o cinturão.