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Blog do Marcelo Alonso

Dois clássicos valendo cinturão

Para quem era contra a banalização dos cinturões interinos, assim como eu, o UFC 236, que será realizado em Atlanta no próximo sábado, será um belo cala-boca.

Que eventaço! Com todo respeito aos campeonsíssimos Robert Whittaker (médios) e Khabib Nurmagomedov (leves), que por razões distintas só podem voltar a lutar no final do ano, mas qualquer fã que acompanhe minimamente este esporte tem razões de sobra para querer ver os confrontos entre Israel Adesanya e Kelvin Gastelum (peso-médio) e Max Holloway e Dustin Poirier (peso-leve). E não há como negar, por tudo que fizeram recentemente, os quatro merecem lutar pela cinta.

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Apesar de Holloway e Poirier fazerem a luta principal da noite, o confronto que mais atrai o interesse do fã brasileiro é, sem dúvida, o penúltimo da noite. Afinal de contas, nesta mesma divisão temos Ronaldo Jacaré (#3) e Paulo Borrachinha (#7) na fila e, dependendo do resultado de suas próximas lutas, ambos têm chances reais de disputar o título linear até o início de 2020 (com o vencedor da luta entre Robert Whittaker e o campeão interino, que será definido sábado).

O aspecto curioso destes dois confrontos principais de sábado é que são dois desafios com características totalmente distintas. Se Holloway e Poirier têm estilos parecidos e envergaduras semelhantes, Kelvin Gastelum e Israel Adesanya são extremos opostos no MMA. Enquanto o mexicano-americano tem o wrestling como modalidade de origem, e é o menor lutador da divisão (1,75m de altura e 1,81m de envergadura), o nigeriano Adesanya vem do kickboxing (79 lutas, 74 vitórias, sendo 29 por nocaute) e é o maior lutador da divisão (1,93m de altura e 2,03m de envergadura). Em comum, os dois só têm mesmo o fato de estarem vindo de vitórias sobre favoritos brasileiros (Gastelum venceu Jacaré e Adesanya, Anderson).

Pelo show que deu na luta com Anderson Silva e pela clara evolução na defesa de quedas mostrada contra Brad Tavares e Derek Brunson, Adesanya é o favorito no papel. Afinal de contas, para vencer só precisaria usar sua melhor técnica em pé, conjugada a seus 22cm de vantagem na envergadura para controlar a distância, evitando a perigosa mão esquerda de Gastelum e suas prováveis tentativas de queda e punindo-o até um possível nocaute técnico antes do 5º round. Sem dúvida esta seria uma possibilidade bastante real para a definição desta luta.

Mas depois do que vi Gastelum fazendo com lutadores muito mais experientes no MMA como Ronaldo Jacaré, Michael Bisping, Vitor Belfort, Tim Kennedy, Uriah Hall e Chris Weidman (dominou a luta até perder no 3º round), passei a vê-lo com outros olhos. Por isso o vejo como favorito neste confronto. Apelidado de mini Cain Velasquez nos tempos de TUF 17 (quando foi o último a ser escolhido e acabou campeão vencendo Uriah Hall na final), Kelvin já era um lutador complicado quando sua caixa de ferramentas só dispunha de um wrestling diferenciado, explosão e uma habilidade natural para usar sua menor estatura com maestria para encurtar e derrubar os oponentes. Mas a partir do momento em que ele passou a treinar com Rafael Cordeiro na Kings MMA e adicionou ao seu jogo uma ótima movimentação para entrar e sair do raio de ação dos oponentes, e descobriu a potência de sua mão direita, passou a ser letal chegando com justiça à elite da divisão.

Sem dúvida alguma o grande ativo de Gastelum é o fato de nunca deixar seus oponentes na zona de conforto. Os strikers (como Belfort e Bisping) sabem que podem ser derrubados a qualquer momento e não desenvolvem inteiramente seu jogo em pé; resultado: muitas vezes acabam surpreendidos pela mão esquerda do baixinho, que entra e sai numa velocidade impressionante. Já os grapplers (como Jacaré e Weidman) respeitam sua canhota e muitas vezes são frustrados na tentativa de derrubá-lo.

O fato é que o menor peso médio do UFC terá pela frente no sábado mais um enorme desafio, e se vencer, além de conquistar o cinturão interino, entrará para a galeria dos “roliços sinistros” do MMA, ao lado de Fedor Emelianenko e Daniel Cormier, atual campeão dos pesados do UFC. Independentemente do resultado, os fãs já sabem que terão garantido até o fim do ano mais um clássico de tirar o fôlego. Uma vez que o campeão linear, Robert Whittaker, deverá voltar ansioso para manter seu reinado após se recuperar da cirurgia de hérnia estomacal que o tirou de combate por quase seis meses.

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A Potência do “DIAMANTE” contra o volume do “ABENÇOADO”

Os apelidos dos protagonistas da noite Max “The Blessed” Holloway e Dustin “The Diamond” Poirier dão a exata noção do nível do espetáculo que os fãs devem assistir no próximo sábado. Além de definir o próximo oponente de Khabib Nurmagomedov, que após a confusão na vitória sobre Conor foi afastado e só poderá voltar no final do ano, este  combate é a revanche de uma luta ocorrida há sete anos (2012).

Na oportunidade, o kickboxer havaiano foi chamado para substituir Ricardo Lamas no evento (com duas semanas de antecedência) contra o sexto do ranking Dustin Poirier. Holloway começou levando clara vantagem em pé, mas logo foi derrubado, sucumbindo com um grito após ser surpreendido com um armlock do triângulo aplicado por Dustin aos 3min23s de luta. O revés na estreia certamente serviu como incentivo para Holloway, que desde então nunca mais foi derrotado por nocaute ou finalização. Foi derrotado por Dennis Bermudez e Conor McGregor no ano seguinte (2013), mas nos últimos cinco anos são sabe o que é perder. E, após 13 vitórias consecutivas, sendo duas delas nocauteando o maior peso-pena da história (José Aldo), o UFC não viu alternativas para manter o “Abençoado” motivado que não subi-lo para a divisão dos leves, já lutando de cara pelo cinturão interino.

A trajetória de Poirier não foi tão dominante quanto a do havaiano. Nos últimos sete anos, perdeu para Cub Swanson (2013) na decisão, foi nocauteado por Conor McGregor (2014) e Michael Johnson (2016), mas depois que decidiu subir em definitivo para a divisão dos leves, o atleta da ATT se encontrou. E a maior prova disso são seus três últimos combates, quando enfileirou o ex-campeão Anthony Pettis (finalização 3º round) e aplicou belos nocautes técnicos em batalhas sangrentas contra Justin Gaethje (4º round) e Eddie Alvarez (2º round). Definitivamente, sem estar desidratado, Dustin, além de aumentar seu poder de nocaute, também melhora sua durabilidade, o que pode ser um fator definitivo na luta com Holloway.

Apesar da predileção pela luta em pé, ambos têm características distintas. Enquanto Holloway começa devagar estudando a distância e cresce no decorrer dos rounds, imprimindo um volume que poucos oponentes suportam (principalmente numa luta de cinco rounds), Poirier costuma começar a luta na 5ª marcha buscando o nocaute desde o início.

Apesar de toda a evolução de Holloway no chão desde o primeiro confronto, é inegável que o faixa preta de jiu-jítsu da ATT continua tendo uma ampla vantagem técnica no solo. Mas a julgar pela última luta do havaiano, contra Brian Ortega, melhor grappler da divisão, Poirier sabe que não terá vida fácil para manter o havaiano de costas no tablado, caso consiga derrubá-lo.

Tendo em vista o casamento de estilos, minha aposta aqui vai para o striker mais polido e com maior capacidade cardiorrespiratória, Max Holloway, mas lembrando que se uma mão do Diamante entrar, ou caso ele consiga derrubar e chegar a uma boa posição no solo, tudo pode mudar.

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Lutando pelo emprego

Além das duas disputas de cinturão, este evento de sábado terá ainda a participação de três brasileiros. Dois deles se enfrentando numa luta que pode ser uma espécie de “eliminatória para fugir do RH”, caso se confirmem os boatos de que o UFC em breve extinguirá a divisão dos moscas. Tomara que não, afinal de contas Alexandre Pantoja (5º) e Wilson Reis (4º) se encontram no topo do ranking da divisão onde o brasileiro Jussier Formiga (se vencer Benavidez) pode ser o próximo a lutar pelo título.

Semifinalista do TUF 24, Pantoja vem de uma sequência de cinco lutas no UFC e quatro vitórias desde sua estreia, em 2016. Já seu oponente, Wilson Reis, estreou no evento em 2013 e desde então já tem 12 lutas no evento (sete vitórias), já tendo inclusive disputado o cinturão com Demetrious Johnson (perdeu por finalização) e, na sequência, com o atual campeão, Henry Cejudo (para quem perdeu por TKO).

Ambos são faixas-pretas de jiu-jítsu, mas Pantoja também é graduado no muay thai, e inclusive já foi campeão brasileiro na modalidade. O atleta de Arraial do Cabo certamente tentará se impor na luta em pé diante do mineiro Reis, que leva vantagem no wrestling, além de ser naturalmente maior fisicamente. Se Pantoja conseguir bloquear as tentativas de queda de Reis, deverá levar vantagem, podendo conseguir até um nocaute; mas se Reis conseguir impor seu melhor wrestling e usar sua maior pujança física, o que acho mais provável, a luta tende a ser decidida em favor do mineiro na decisão. Nossa torcida é que ambos esqueçam os boatos sobre a categoria e se entreguem no Octógono proporcionando uma grande luta aos fãs e mostrando aos patrões que ambos merecem ficar empregados, seja na divisão dos moscas ou na dos galos.

E por falar em subida de divisão, Poliana Botelho faz sua estreia nos moscas neste UFC 236, depois de ser finalizada pela duríssima atleta da Alpha Male Cynthia Calvillo em sua terceira luta no peso-palha (havia vencido as duas primeiras), a brasileira enfrenta Lauren Mueller, que também vem de derrota por finalização, para a chinesa Yanan Wu. Como ambas são strikers que têm como ponto fraco a luta de solo, o duelo tem uma tendência natural a transcorrer em pé. Mas levando em conta a inteligência tática de André Pederneiras e o alto nível de treinos no solo que a brasileira tem na Nova União, não me surpreenderia se Poliana surpreendesse buscando a luta de solo e perseguindo sua primeira vitória por finalização.

O Canal Combate transmite o UFC 236 com exclusividade neste sábado, a partir de 19h15 (horário de Brasília).

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