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Estudo mostra que correr descalço pode reduzir risco de lesão no joelho

Pesquisadora orienta a variar estímulos, com uma precaução: é preciso começar aos poucos

Começar a correr ou correr uma prova longa são algumas resoluções comuns de Ano Novo (eu mesma, em outras ocasiões, já fiz ambas, com sucesso questionável). Se você faz parte dessa turma, considere treinar descalço.

A pesquisadora Ana Paula da Silva Azevedo, do Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física e Esporte da USP, conduziu um estudo grande, do qual ainda está publicando os resultados, mas que mostra uma coisa interessante: quando introduzido de forma progressiva e supervisionada, o hábito de correr sem tênis proporciona menos impacto e possibilidade de lesões nas articulações dos joelhos e quadris.

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Em seu estudo, Ana acompanhou, durante 16 semanas, o treino de corredores recreacionais. Eram homens e mulheres de 18 a 40 anos acostumados a usar tênis, com experiência de corrida de cinco a seis anos e que percorriam, em média, 44 quilômetros por semana. O tênis foi retirado gradualmente da prática deles.

Da primeira à quarta semana, eles fizeram 5% do percurso de seus treinos descalços. Da quinta à oitava semana, 10%. E assim foi até chegar aos 20%. A pesquisadora indicou que os corredores treinassem em superfícies macias da primeira à oitava semana, deveriam correr em superfícies macias para depois mesclá-las a outras mais duras, como esteiras e asfalto.

Segundo ela, depois da adaptação, os corredores que realizaram parte do treino descalços obtiveram benefícios como redução média de 20% das forças de impacto e de cerca de 60% na ativação muscular. Na prática, isso significa que eles tiveram menos risco de lesão, especialmente no joelho e quadril, e melhor desempenho.

Ana, que é uma praticante recreacional da corrida, resolveu fazer sua iniciação científica em um laboratório na USP no qual uma das principais linhas de investigação era a locomoção humana. “Sempre me intrigou essa dualidade da corrida: por um lado, temos uma forma de exercício simples, acessível a quase todos, democrática, e que pode ser praticada em qualquer lugar. Por outro, uma forma de exercício com um índice bastante alto de lesões”, diz ela.

Entre 2000 e 2010 começaram a surgir vários estudos e dados que sugeriam que correr descalço poderia ser a solução para essas lesões – o best-seller Nascido Para Correr, de Christopher McDougall, é um exemplo. “Como ingressei no curso de Educação Física com o objetivo de usar o exercício e o treinamento físico para melhorar a saúde geral e qualidade de vida das pessoas, e este ainda era um tema bastante novo e muito promissor, resolvi estudar a locomoção humana com os pés descalços.”

Para a especialista, se bem utilizada, a corrida sem calçados não tem contraindicações. “Meu estudo propõe o uso progressivo da condição descalço como estratégia de treinamento. E diversos outros estudos, juntamente com os meus, mostram como o corredor deve se preparar estruturalmente para suportar a demanda da corrida descalço. Feito dessa forma, não há contraindicações.”

Segundo Ana, quando corremos descalços alteramos nossa técnica. “O uso contínuo de calçados esportivos mais estruturados, com maior sistema de amortecimento, é uma das situações que parece nos levar a apoiar primeiro o calcanhar durante a corrida, enquanto o uso contínuo de calçados menos estruturados e com menor amortecimento e/ou os pés descalços parecem nos induzir naturalmente a apoiar primeiro a ponta dos pés”, afirma.

Para ela, a globalização e o grande apelo da indústria fashion e de consumo, que estimulam excessivamente o uso do calçado esportivo, acabam prometendo coisas que o calçado pode não ser capaz de cumprir. “No entanto, o calçado pode ser útil por muitas razões, como proteger a planta dos pés das altas temperaturas que os pisos e superfícies podem atingir, bem como proteger de lesões cutâneas por atrito ou por objetos que podem cortar a pele, como cacos de vidros, pedras, pregos etc.”

Ana reforça que não há jeito certo ou errado de correr, ambas as formas têm vantagens e desvantagens. Se você resolver começar a correr descalço de uma hora para outra, sem adaptação ou orientação adequada, pode lesionar-se também. “A ideia do estudo não é dizer às pessoas para que abandonem seus tênis e passem a adotar os pés descalços como estilo eterno de vida e corrida. A proposta é o uso progressivo da condição descalço como estratégia de treinamento. É apenas mais uma opção de forma de exercício e treinamento para induzir determinadas respostas benéficas e conhecidas, especialmente de proteção, no praticante.”

E se ela fosse orientar alguém que está começando agora a correr, sugeriria que a pessoa fizesse isso com tênis ou descalça? “Diria para a pessoa começar com os dois”, ela ri. “Porém, em doses diferentes. No entanto, essa dose só poderia ser determinada de acordo com diversas informações e características individuais dessa pessoa.” Mais uma vez: procurar um especialista é a melhor alternativa.

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