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Blog do Marcelo Alonso

Guerra contra a balança marca três duelos no UFC Brooklyn

Dillashaw, Cerrone e Medeiros descem de peso para o evento deste sábado. Saiba o que isso pode significar para cada um deles.

A USADA trouxe indiscutivelmente grandes ganhos para o MMA, mas sem dúvida nenhuma o maior de todos diz respeito à questão da perda de peso. Sem a possibilidade de fazer a famigerada reidratação endovenosa logo após a pesagem, a grande maioria dos atletas que tinha problemas com a balança decidiu subir uma categoria.

Os bons resultados, nas novas divisões, de ícones como Rafael dos Anjos, Kelvin Gastelum, Alex Cowboy, Anthony Smith, Thiago Marreta e tantos outros mostraram que o MMA finalmente havia dado um passo importante no sentido de preservar a saúde dos protagonistas do espetáculo. Neste sentido, 2018 foi especialmente emblemático, afinal de contas os dois maiores destaques do ano, Amanda Nunes e Daniel Cormier, escreveram seus nomes na história do esporte ao decidirem subir uma divisão, lutando praticamente com seus pesos naturais e assim conquistando mais um cinturão com nocautes impressionantes no 1º round.

Veja também: Campeões se encaram em coletivaAs lutas favoritas de Cerrone | Cejudo: "Vou tirar a alma do TJ" | As Superlutas do UFC | Dillashaw: "Vou colecionar títulos"

Curiosamente este primeiro UFC do ano terá três lutadores fazendo o caminho inverso, ou seja, insistindo em voltar a lutar contra a balança: TJ Dillashaw, Yancy Medeiros e Donald Cerrone.

Teste para lutar com McGregor?

Um dos lutadores mais rodados do plantel do UFC, Donald Cerrone tem 46 lutas de MMA. Aos 35 anos e com tantas guerras no currículo é normal que comece a apresentar uma queda natural de rendimento. Mas o fato de ter perdido quatro das últimas seis lutas levou o norte-americano a acreditar que precisa voltar aos pesos-leves. Uma avaliação precipitada se levarmos em conta suas performances nas três últimas lutas, em 2018: Em fevereiro, aplicou um nocaute técnico sobre Yancy Medeiros ainda no 1º round; em junho, perdeu uma guerra de três rounds (na decisão) contra Leon Edwards; e em novembro fez Mike Perry parecer um iniciante ao finalizá-lo no 1º round.

Cerrone pesa normalmente em torno de 83kgs, ou seja, para bater o limite da divisão dos leves nesta sexta teve que perder 13kgs, o que obviamente impacta na potência de seus golpes e também na sua capacidade de absorção. Vale lembrar que em sua última luta na divisão, em 2015, Cerrone entrou visivelmente debilitado no Octógono e foi atropelado por Rafael dos Anjos em pouco mais de um minuto.

No próximo sábado, seu oponente será Alexander Hernandez. Um lutador que só tem duas lutas no UFC, mas que conseguiu chegar rapidamente ao 11º lugar do ranking dos leves após estrear nocauteando Beneil Dariush. Em sua segunda luta contra Olivier Aubin-Mercier, Hernandez conseguiu mostrar que além do potencial de nocaute tem um ótimo wrestling, atleticismo e resistência. Ou seja, Cerrone terá pela frente um desafio bastante duro após a guerra com a balança.

Como tem falado com freqüência de uma possível superluta com McGregor, um combate que, obviamente, teria enorme potencial de vendas, talvez faça sentido que esta luta com Hernandez seja um teste do UFC para assegurar que Cerrone não terá problemas com a balança, como teve em algumas de suas últimas lutas entre os leves. Com o peso batido, agora Cerrone tem que se esforçar ao máximo na recuperação. Afinal de contas terá pela frente um adversário cujo jogo é baseado no atleticismo e potência dos golpes. E só a vitória interessa ao veterano.

Uma pedreira na volta aos leves

Principal parceiro de treinos do campeão dos penas Max Holloway, o havaiano Yancy Medeiros é outro que vinha muito bem entre os meio médios (três vitórias em quatro lutas) e, estranhamente, preferiu voltar a guerrear com a balança.

Curiosamente a decisão de Medeiros de voltar para o leves veio após uma derrota para Donald Cerrone em fevereiro passado. Mas antes disso, vale lembrar, finalizou Sean Spencer e nocauteou Erick Silva e Alex Cowboy. Antes, ainda em 2016, havia perdido para Francisco Massaranduba no UFC 198, em sua última luta no peso-leve.

E quem vai recepcionar Medeiros na antiga categoria é o wrestler Gregor Gillespie, sem dúvida alguma um dos maiores talentos revelados na divisão nos últimos anos. Quatro vezes All-American e invicto no MMA com 12 vitórias, sendo as cinco últimas no UFC (dois nocautes e duas finalizações), o norte-americano vem mostrando uma evolução impressionante tanto na parte em pé como nas transições e finalizações no solo. Com um jogo muito parecido com o do ex-campeão dos pesados Cain Velásquez, Gillespie tem mesclado um bom boxe com quedas e muito atleticismo, sempre levando os oponentes a exaustão até conseguir uma finalização ou nocaute técnico. Desnecessário dizer que com um oponente com estas características, Medeiros precisará ter uma ótima recuperação pós pesagem. Se estiver saudável e conseguir frustrar as quedas, usando sua maior envergadura para golpear Gillespie, Yancy poderá voltar aos leves pela porta da frente. Mas tendo em vista seu desgaste na balança, minha aposta é na sexta vitória de Gillespie e no bônus de Luta da Noite para ambos.

TJ e o sonho de conquistar três cinturões

A capacidade de recuperação pós pesagem também está na pauta da luta principal do UFC Brooklyn, quando o rei dos pesos-galo TJ Dillashaw tentará conquistar seu segundo cinturão enfrentando o campeão dos moscas Henry Cejudo.

Curiosamente, Dillashaw nunca tinha batido 57kg, nem nos tempos que lutava wrestling no high school (lutava na categoria até 60kg). Mas com muito profissionalismo e o acompanhamento por meses de um time de nutricionistas, TJ venceu a primeira guerra e cravou 56,5kgs.

A grande questão é como será sua recuperação para a luta. Se o processo não tiver comprometido muito sua absorção de golpes, velocidade e poder de nocaute, TJ entra como favorito com chances de conseguir até um nocaute, caso contrário talvez pague o preço numa luta de cinco rounds com um campeão olímpico que mostrou evolução impressionante no boxe ao vencer Demetrious Johnson na decisão.

O fato é que TJ poderia ter evitado todo este esforço ao aceitar o desafio de Henry Cejudo em sua divisão. Mas realmente não teria nada a acrescentar ao seu legado. Descendo para lutar entre os moscas, terá a chance de entrar para a história do esporte no próximo sábado sendo o 4º lutador a conquistar dois títulos simultaneamente.

E caso vença Cejudo, TJ já disse que seu próximo passo será tentar um feito inédito na história do MMA, desafiar o campeão dos penas Max Holloway para tentar ser o primeiro lutador a acumular três títulos em divisões diferentes.

Caso perca no sábado, TJ certamente dará a revanche imediata para Cejudo na divisão dos galos. Neste caso, obviamente sem a guerra contra a balança, entraria como favorito absoluto.

O fato é que independente dos resultados de sábado, a história recente do esporte tem mostrado que quanto menos sacrifícios físicos o atleta se submete na guerra contra a balança, melhor são seus resultados no Octógono.

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