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Blog do Marcelo Alonso

Joanna, Zhang, Romero, Adesanya e as lições do UFC 248

A insônia ainda é meu melhor termômetro medidor da qualidade de um evento de MMA. Havia algum tempo que não ia dormir com o sol nascendo como na madrugada do último sábado. Conseqüência direta da descarga de adrenalina deste UFC 248! O show de jiu-jítsu de Rodolfo Vieira, a volta por cima de Alex Cowboy, a luta antológica entre as meninas e um evento principal surpreendente e recheado de polêmica, que definiu quem será o adversário de Paulo Borrachinha pelo título dos médios.

Zhang x Joanna: 25 minutos para a história

A poucas horas do Dia Internacional da Mulher, a campeã dos palhas, Weili Zhang e a polonesa Joanna Jedrzejczyk presentearam os fãs do esporte com uma luta antológica. Foram cinco rounds com muita movimentação, técnica, tática, precisão e contundência, que fizeram desta luta uma das melhores da história. Joanna tentando controlar a distância fazendo uso de sua vantagem na envergadura para conectar golpes da média para a longa. Já Zhang, mais atlética, tendo que engolir golpes para encurtar e aplicar os seus, mais contundentes. O resultado disso foram 25 minutos de trocação insana e uma das lutas mais difíceis de se pontuar dos últimos tempos.

Brasil

Um combate que acabou coroando o critério de pontuação que vem sendo adotado atualmente no sentido de privilegiar a contundência em detrimento do volume. E foi exatamente o dano causado pela potência dos golpes da chinesa que desacelerou Joanna no 4º e 5º rounds, que costumam ser os seus melhores. Ambas saíram muito machucadas, mas foram aplaudidas de pé pelo público em Las Vegas.

Uma luta, inclusive, de total interesse para o MMA brasileiro. Se Jéssica “Bate-Estaca” Andrade vencer a revanche com Rose Namajunas no dia 18 de abril (UFC 249), já pode começar a estudar uma nova tática para usar numa possível revanche com a chinesa, quem sabe, como ela disse na transmissão do Combate, no último UFC Brasil de 2020, possivelmente em novembro.

Borrachinha, o grande vitorioso do UFC 248

Ao contrário da disputa do cinturão peso-palha, o evento principal entre Yoel Romero e Israel Adesanya surpreendeu negativamente a torcida que vaiou em diversas oportunidades um confronto de estilos que prometia ser um dos melhores combates da história dos pesos-médios.

Como escrevi aqui no blog na sexta-feira, Romero trazia ameaças nunca enfrentadas por Adesanya, que poderiam colocar à prova seus pontos fracos. O cubano estava ciente que, mesmo repetindo a estratégia de não usar muito seu wrestling para não se desgastar, só usando fintas, já teria condições reais para obrigar Adesanya a ser mais defensivo. Mas confesso que não esperava tanto.

Brasil

Ciente de suas brechas na defesa de quedas e no jogo de solo (principalmente de costas para o chão), o campeão lutou como os fãs nunca viram, literalmente temeroso. A cada ajoelhada do cubano, ameaçando uma entrada de double leg, o nigeriano evadia lateralmente saindo da sua distância ideal de ataque, sem responder a altura. Quando Romero conseguiu surpreender conectando seu overhand no primeiro round, o Israel passou a adotar uma postura ainda mais defensiva.

É bem verdade que o cubano também mereceu as vaias do público. Com toda sua experiência, Romero poderia ter usado mais seu wrestling aproveitando o respeito excessivo do oponente para progredir. Não o fez e certamente acabou sendo punido pelos juízes por isso.

Pessoalmente marquei 49 a 48 para Romero (três rounds a dois) levando em conta o mesmo critério que definiu a luta para Zhang contra Joanna. Na minha leitura, o cubano aplicou os golpes mais contundentes em três dos cinco rounds e mereceu a vitória. Um empate também poderia ser possível (10x10 em um dos rounds e dois rounds para cada). Mas três rounds para Adesanya, sinceramente não achei justo. Apesar de não considerar nenhum absurdo. Só não consigo justificativa plausível para o quatro a um (dado a Adesanya) pelo experiente Chris Lee.

Brasil

Como aqui no Brasil a corrupção está por toda parte, sempre vejo os fãs nacionais culpando o UFC por todo e qualquer resultado adverso. Não há a menor possibilidade e a maior prova disso é que Dana White é um dos que mais vocifera contra a arbitragem, quase que semanalmente. E o motivo disso é que, nos EUA, a arbitragem não é responsabilidade do evento e sim das Comissões Atléticas, que são órgãos públicos, geridos pela ABC. E há de se reconhecer que dentre as 98 comissões que regulam o esporte, a de Nevada (que regulou este UFC 248), da Califórnia e do Brasil estão entre as mais respeitadas. Uma das poucas que exigem que seus juízes e árbitros façam cursos de atualização anualmente. Algo que, obviamente, deveria ser obrigatório, mas não é. Quarta-feira vou trazer um texto mais detalhado sobre o assunto aqui no blog (como melhorar a arbitragem no MMA).

Ainda longe de Anderson Silva e Jon Jones

Este evento também serviu como um aviso aos apressadinhos que adoram coroar campeões no panteão dos melhores de todos os tempos. Adesanya acabou de ganhar o cinturão e já tinha gente o chamando de novo Anderson Silva. Pera lá! O brasileiro defendeu o título 10 vezes. Vamos respeitar a história do esporte.

Para chegar ao patamar dos gênios do esporte como Anderson e Jones, o nigeriano ainda precisa preencher sua caixa de ferramentas com wrestling e jiu-jítsu. Duas modalidades essenciais para que ele não precise ficar tão na defensiva contra grapplers de elite, assim como Anderson conseguiu quando enfrentou Dan Henderson e Chael Sonnen.  

Mas o tempo conspira a seu favor. Afinal de contas o nigeriano só tem 30 anos, mesma idade em que Anderson iniciou seu reinado no UFC.      

Quem adorou o resultado de sábado foi o nosso Paulo Borrachinha, que estava na primeira fileira do UFC 248 e será o próximo a lutar pelo cinturão. Depois de encarar Romero em três rounds de guerra, o mineiro já começou a usar a postura defensiva do nigeriano como munição para alavancar esta que merece ser uma das melhores lutas (e vendas de PPV) de 2020. Certamente um combate totalmente diferente do último sábado, afinal de contas a postura agressiva de Borrachinha, deverá trazer de volta o melhor Adesanya, aquele contragolpeador perigosíssimo contra oponentes que o agridem. Por outro lado, Romero mostrou novos caminhos que podem ser explorados pelo brasileiro. Definitivamente esta será de tirar o sono!

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