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José Aldo comemora sua vitória no UFC 200. (Foto por Rey del Rio/Getty Images)
Atletas

José Aldo | O "Rei do Rio" conquista seu lugar no Hall da Fama do UFC

Estrela do MMA que teve grande contribuição no estabelecimento das categorias mais leves como parte do UFC, Aldo terá seu merecido lugar ao lado dos maiores de todos os tempos

José Aldo era uma força da natureza.

Quando ele apareceu em cena no WEC, mais rápido do que um relâmpago, mais explosivo do que gás perto do fogo, você sentia sua presença. Quando você o assistia, você instantaneamente sabia que ele era diferente.

Dentro do cage, ele era elétrico - com personalidade e carisma transbordando em suas performances - o que fazia um contraste da pessoa tímida e calada quando não estava lutando. Aldo se expressava com ação em vez de palavras, e quando ele nocauteou Cub Swanson em oito segundos no WEC 41, você sabia que ele seria especial.

Ele conquistou o cinturão em sua próxima luta, atropelando Mike Brown de uma maneira qye sinalizou que uma troca de gerações estava vindo, e Aldo estava na vanguarda. Apesar de serem muito duros, veteranos como Brown não conseguiam fazer muito contra o estilo dinâmico na luta em pé do brasileiro, que logo em seguida defendeu seu cinturão contra Urijah Faber na casa do rival, castigando as pernas do norte-americano para defender seu título.

Aldo nunca foi de falar muito, mas sua música de entrada tomava sempre conta dos ouvidos alheios. "Run This Town", de Jay-Z com Kayne West e Rihanna, que virou sua música de assinatura, foi a precurssora do que acontecia no cage azul do WEC: aqui pode ser sua casa, mas quem manda sou eu.


E ele realmente mandava.

Depois de mais uma defesa de cinturão bem sucedida no WEC, Aldo chegou ao UFC e foi nomeado o primeiro campeão peso-pena da organização, com Dominick Cruz ganhando a mesma distinção no peso-galo. Sua estreia foi no UFC 129 e ele defendeu seu título contra Mark Hominick na luta co-principal, deixando o prato principal para Georges St-Pierre.

Competir no mesmo card do que St-Pierre e dominar o rival da maneira que ele dominou mostrou para todos que não entendiam bem o que estava acontecendo que Aldo estava entre os melhores lutadores do planeta. Apesar da luta contra Hominick ser lembrada pelo hematoma do tamanho de uma maçã que Hominick ficou na testa e da sua reação nos cinco minutos finais, a verdade é que o brasileiro foi melhor de forma incontestável em quatro rounds.

José Aldo posa com o cinturão nos bastidores do UFC 200 após a vitória contra Frankie Edgar. (Foto por Mike Roach/Zuffa LLC)

José Aldo posa com o cinturão nos bastidores do UFC 200 após a vitória contra Frankie Edgar. (Foto por Mike Roach/Zuffa LLC)


Duas lutas depois, Aldo nocauteou Chad Mendes nos segundos finais do 1° round da luta entre eles no UFC 142, no Rio de Janeiro, e prontamente saiu do Octógono para celebrar junto da torcida brasileira.

Pareceu algo perigoso no momento assistir a um talento de classe mundial sair do controle das regras do UFC antes do cinturão ser reapresentado a ele, mas quando você vê a felicidade em seu rosto, a maneira como ele foi recebido pelos fãs e tudo mais, as coisas fizeram sentido. "O Rei do Rio" precisava comemorar com seu povo. E eles comemoraram por amis três anos e quatro defesas de cinturão, incluindo vitórias sobre Frankie Edgar e uma revanche que se tornou um clássico contra Mendes, mais uma vez no Rio.

Ele era indiscutível e imparável, até que um rival irlandês virou o mundo de cabeça para baixo.


Conor McGregor tinha um tipo diferente de magnetismo, um tipo diferente de tudo o que vimos. Ele tinha presença, tinha os holofotes dentro e fora do Octógono e vinha com tudo em busca do cinturão.

Não havia dúvidas de que McGregor seria uma estrela, mas sua rivalidade e futura luta contra Aldo acelerou esse processo. E o irlandês foi responsável por dois momentos que sempre ficarão na mente dos fãs de MMA, especialmente por estar em seu melhor momento da carreira.

A maneira como ele perseguia Aldo, literal e figuramente, era fascinante pela forma como o enérgico desafiante interagia com o ambiente ao redor, como se ele fosse o dono de tudo. Ele sabia que teria que vencer um homem que não perdia desde 2005, e fez disso sua missão de vida antes de pisar no Octógono contra Aldo.

McGregor aproveitou todas as chances que teve. Durante a tour mundial que fizeram para promover o UFC 189, ele colocou mais combustível onde já tinha fogo, provocando Aldo em qualquer oportunidade que aparecia. Era o vilão falastrão contra o herói calado. Infelizmente, Aldo acabou se machucando e deu lugar a Mendes, que acabou derrotado por McGregor e, com isso, o irlandês conquistou o cinturão interino do peso-pena, o que colocou ainda mais peso no inevitável encontro com o brasileiro.

Eu estava sentado na área reservada para a imprensa no UFC 194, e assim que vimos as entradas e introduções de McGregor e Aldo, eu olhei por toda a MGM Grand Garden Arena e ouvi mais de 16 mil pessoas gritando de empolgação, e de maneira consciente eu fechei meu laptop.

José Aldo mantém o cinturão do WEC após a vitória sobre Manny Gamburyan no WEC 51. (Foto por Josh Hedges/Zuffa LLC)

José Aldo mantém o cinturão do WEC após a vitória sobre Manny Gamburyan no WEC 51. (Foto por Josh Hedges/Zuffa LLC)


Esse foi um momento que eu esperava desde o começo do ano, e eu só queria me sentar e me focar no que estava na minha frente, sem ter nenhuma distração.

Bruce Buffer fez com maestria o que sempre faz, os lutadores se encontraram no centro do Octógono para as instruções finais antes de voltarem aos seus corners, e o volume dos gritos dos fãs na arena ficou ainda maior.

Apenas 13 segundos depois, o lugar parecia que iria desabar. Os olhos espantados de todos da imprensa logo saíram do computador para ver o que acontecia no Octógono, com McGregor em cima da grade como o novo campeão indiscutível do peso-pena, apenas esperando receber seu cinturão.

Brasil

Sete meses após essa derrota, com o novo campeão buscando a cinturão peso-leve e travando suas batalhas contra Nate Diaz, Aldo retornou ao Octógono no UFC 200 e dominou Frankie Edgar pela segunda vez.

Qualquer pergunta sobre como estaria o psicológico do ex-campeão foi respondida, já que ele não deixou dúvidas naquela noite de que ele era o mesmo Aldo que encontramos no Octógono pela primeira vez três anos antes.

Pode ter sido a vitória mais importante da Carreira de Aldo, mas para mim com toda certeza foi essa. Essa vitória cravou de vez seu lugar como um dos maiores de todos os tempos. Ele estava próximo dessa lista antes do UFC 200, mas havia a pergunta sobre como ele voltaria após uma derrota embaraçosa e emocional que ele teve contra McGregor. Vencer da maneira que ele venceu o futuro Hall da Fama do UFC, como se nada tivesse acontecido, trouxe a ele a força necessária de que essa mancha jamais afetaria sua carreira.

Convenhamos que uma hora ou outra, todas as pessoas irão perder, e Aldo não seria diferente. Ele foi brilhante em seu retorno como campeão, até que um homem chamado Max Holloway conseguiu o feito de derrotar a lenda brasileira em duas oportunidades, além do futuro campeão, Alexander Volkanovski.

Nesta hora veio uma mudança inesperada: Aldo foi para o peso-galo. E seu início não foi bom, com uma derrota por decisão dividida para Marlon Moraes e outra derrota contra Petr Yan no UFC 251, pelo cinturão vago da categoria. Quando parecia que a lenda brasileira estava em seu fim como um lutador de elite, ele deu uma virada e bateu Marlon Vera, Pedro Munhoz e Rob Font, todos por decisão unânime, e voltou a ter seu nome ventilado na luta pelo cinturão.

Outra oportunidade pelo título acabou não se materializando, mas falando de forma honesta, isso é o de menos. Aldo não precisava lutar pelo cinturão novamente para provar sua grandiosidade.

Isso já foi provado quando ele venceu 15 vezes seguidas, com dez delas em lutas pelo cinturão no WEC e no UFC.

Isso já foi provado quando ele era o rei do peso-pena e venceu os melhores da divisão de forma contundente até aparecer Conor McGregor.

Isso foi provado quando ele se recuperou de sua primeira derrota depois de mais de uma década com uma performance espetacular em um dos maiores cards já feitos na história do UFC.

Ele não precisa provar mais nada. Ele é José Aldo.