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Blog do Marcelo Alonso

O caminho da vitória para os 8 brasileiros no UFC Ft. Lauderdale

Definitivamente, o fã de MMA brasileiro terá diversão garantida nos próximos 15 dias. Afinal de contas, 23 representantes nacionais subirão ao Octógono do UFC nas próximas semanas. Oito estarão lutando no próximo sábado (27) no UFC Ft. Lauderdale e os outros quinze no UFC 237, que será realizado no Rio de Janeiro no dia 11 de maio.

Diante da riqueza de assuntos para o blog comecemos falando dos desafios brasucas no próximo sábado, quando entrarão em ação Ronaldo Jacaré, Glover Teixeira, Alex Cowboy, John Lineker, Gilbert Durinho, Augusto Sakai, Virna Jandiroba e Dhiego Lima. Como de praxe, nenhum dos oito terá vida fácil. No texto a seguir tentei esmiuçar o caminho para a vitória de cada um, tendo em vista a característica de seus oponentes.

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Ronaldo Jacaré x Jack Hermansson

O UFC Ft. Lauderdale foi inicialmente planejado para que a luta principal definisse o próximo oponente do vencedor da luta entre o campeão linear, Robert Whittaker, e o interino, Israel Adesanya. Nada mais justo que uma revanche entre Ronaldo Jacaré (4º do ranking dos médios) e o cubano Yoel Romero (2º) para definir o próximo contender. Mas infelizmente Romero contraiu uma pneumonia que o levou a sair do card a três semanas do evento, obrigando o UFC a apagar o incêndio apresentando um oponente à altura para o brasileiro. Sem nenhum dos top disponíveis, a organização acabou encontrando a solução no 10º lugar do ranking, o sueco Jack Hermansson, que conquistou o posto há três semanas, após conseguir uma impressionante finalização sobre David Branch aos 39 segundos de luta. Para convencer o brasileiro a lutar, porém, Dana White foi obrigado a jogar alto, garantido que, em caso de vitória, Jacaré seria o próximo a disputar o título dos médios. Sem opções para barganhar, o brasileiro teve de ceder, mesmo estando ciente de que se uma provável luta entre Borrachinha (7º) e Romero for confirmada, o vencedor tem enorme potencial para furar sua fila.

Mas deixando a política de lado, vamos ao que interessa no momento: a luta principal do UFC no próximo sábado. Definitivamente o sueco Hermansson não será um desafio fácil para Jacaré. Após a derrota por nocaute para Thiago Marreta em 2017, Hermansson tem mostrado grande evolução. Desde então, foram três lutas e três vitórias (duas por finalização e uma por nocaute técnico). Primeiro, uma virada espetacular sobre Thales Leites no Brasil, na qual mostrou muito coração e grande evolução no solo, escapando de várias finalizações do brasileiro e, depois de perder o 2º round por 10 a oito, conseguindo uma vitória por nocaute técnico, com socos na montada, no último round. Na sequência, o sueco finalizou o faixa-marrom de jiu-jítsu Gerald Meerschaert com uma guilhotina no 1º round e, três meses depois, usou o mesmo golpe para surpreender mais um faixa-preta, o ex-campeão do WSOF David Branch. Pelo que mostrou em suas últimas lutas, definitivamente o sueco é um desafiante que merece todo respeito. Tem gás, coração, um ótimo kickboxing, além de 14cm de vantagem na envergadura.

Mas a questão que a meu ver faz de Jacaré o amplo favorito nesta luta é o casamento de estilos. O grande buraco no jogo de Hermansson é seu wrestling defensivo, que foi exposto por praticamente todos os seus oponentes. E em se tratando de Ronaldo Jacaré, o fato de ter melhorado muito no solo, graças aos treinos com Eduardo Teta, faixa-preta de Ricardo Libório, pode ser uma tremenda armadilha para Hermansson. Vale ressaltar, que além  da ampla vantagem no jogo de quedas e no solo, o brasileiro tem um poder de nocaute maior que o europeu.

Por outro lado, Jacaré, aos 39 anos, não tem mostrado mais a mesma “explosão ininterrupta” que marcava suas lutas tanto no jiu-jítsu quanto no MMA no passado. Em suas últimas lutas Jacaré apresentou uma clara queda de rendimento no 2º e 3º rounds. Obviamente, o fato de esta luta ter cinco rounds deve ser encarado como um ponto favorável ao sueco, que se fizer uma tática usando sua envergadura para conter o ímpeto inicial do brasileiro, pode crescer e surpreender nos rounds finais.

Mas apesar de toda a evolução de Hermansson, vale lembrar que, na divisão dos médios, existe uma clara linha de corte entre os cinco primeiros do ranking e, à exceção de Adesanya e Gastelum, todos que tentaram transpor esta linha nos últimos dois anos, não foram bem sucedidos. Só saberemos se Hermansson será a terceira exceção no sábado. Pessoalmente, acho que o sueco tem tudo para integrar esta elite, mas ainda não é o momento. Por isso, minha aposta é numa vitória de Jacaré por nocaute técnico no 1º round.

Glover Teixeira x Ion Cutelaba

Glover Teixeira, 11º do ranking dos meio-pesados, é o outro quarentão representante da velha guarda do MMA brasileiro que fará um teste de fogo contra um novo talento não ranqueado no próximo sábado. Vindo de uma seqüência de duas vitórias por nocaute no 1º round e sendo 14 anos mais novo que mineiro, o atleta da Moldávia, Ion Cutelaba, espera mostrar que já merece fazer parte da elite da segunda divisão mais pesada do UFC.

Mesmo mostrando uma queda de performance nos últimos anos, que tem se refletido em sua movimentação e também na absorção de golpes, Glover entra com amplo favoritismo nesta luta, pois é claramente superior em todas as áreas: tem um wrestling superior, trocação mais refinada, além de ser infinitamente superior no solo. Se não der sopa para o azar, como fez em sua última luta contra Karl Robertson, Glover tem plenas condições de repetir o que fizeram Jared Cannonier e Misha Cirkunov (ambos derrotados pelo mineiro), se aproveitando do péssimo wrestling defensivo de Cutelaba para levar a luta para o solo e finalizar. Mas se decidir se arriscar na trocação, principalmente na curta distância, pode ser surpreendido pelas mãos pesadas do novato. Minha aposta é numa vitória de Glover por finalização no 1º round.

Alex Cowboy x Mike Perry

Antes de começar o evento, este combate já entra como favorito ao bônus de Luta da Noite. Se aceitar o jogo de Perry e partir para a trocação franca, o brasileiro Alex Cowboy pode acabar caindo. O melhor caminho aqui é repetir a tática que usou com maestria contra o ex-campeão interino Carlos Condit. Ou seja, controlar a distância e derrubar. Como deixou claro em sua última luta contra Cowboy Cerrone, Perry é muito fraco no solo.

John Lineker x Cory Sandhagen

Além de Jacaré e Glover, John Lineker é o terceiro lutador brasileiro ranqueado neste card que recebe um talento em ascensão numa luta onde só o novato tem a ganhar. Campeão mundial amador de kickboxing e faixa-marrom de jiu-jítsu, Cory Sandhagen mostrou excelente movimentação e muita agressividade na vitória por nocaute técnico sobre Austin Arnett em sua estreia no UFC. Na segunda luta, contra Iuri Marajó, o norte-americano trouxe uma raça fora do normal para escapar de um armlock justíssimo aplicado pelo brasileiro e ainda conseguir um nocaute no round subsequente. Na terceira, mostrou sua técnica de solo, finalizando Mario Bautista.


Apesar de todas as credenciais apresentadas nestas três primeiras lutas no UFC,  Sandhagen deverá ter um choque de realidade contra um Top 10 de uma divisão disputadíssima como a dos galos. Lineker hoje é o 8º, mas já chegou a ser o 2º da divisão, tendo inclusive lutado com o ex-campeão TJ Dillashaw, para quem perdeu na decisão. Para complicar ainda mais a situação do desafiante, o paranaense vem de duas vitórias sobre oponentes com compleição física e postura tática muito parecidas com a de Sandhagen. Tanto Marlon Vera quanto Brian Kelleher são strikers bem mais altos que tentaram, sem sucesso, frear o ímpeto do brasileiro com golpes retos e muita movimentação. Minha aposta aqui é que o brasileiro vença mais uma vez a barreira da envergadura, alternando golpes na cabeça e no corpo, como fez contra o Kelleher, e conquiste uma vitória por nocaute técnico no 2º round.

Novatos contra ex-campeões

Mas este card também terá novatos brasileiros recém-chegados ao evento enfrentando veteranos ex-campeões que ainda estão ranqueados. Estes são os casos de Virna Jandiroba e Augusto Sakai.

Descoberto no Contender Series, Sakai fez sua estreia em setembro último vencendo por nocaute técnico o veterano Chase Sherman e já recebeu como segundo oponente o ex-campeão Andrei Arlovski, que tem 40 anos de idade e 46 lutas de MMA. Ciente da queda de rendimento em decorrência da idade e de que seu queixo não apresenta mais a mesma resistência de outrora, Arlovski promoveu uma clara mudança tática em seu jogo, com vistas a se preservar após sofrer uma sequência de cinco derrotas consecutivas (quatro por nocaute técnico) entre 2016 e 2017. O fato é que, desde então, perdendo ou ganhando, o bielorrusso tem conseguido atingir seu objetivo. Nos últimos dois anos perdeu três das cinco lutas que fez no UFC, mas chegou ao final em todas elas.

No próximo sábado, o aluno de Fabio Noguchi e Gile Ribeiro terá o desafio de desvendar esta tática defensiva, baseada em contragolpes, movimentação e muita defesa de queda. Se conseguir acertar o queixo do veterano ou levar a luta para o solo, o brasileiro tem chances de vitória. Mas o mais provável é que a maior experiência de Arlovski se imponha e ele consiga a vitória por pontos.

Virna Jandiroba estreia no UFC após vencer 14 lutas consecutivas e ainda conquistar o cinturão peso-palha do Invicta. De cara, terá pela frente a primeira campeã da divisão no UFC, Carla Esparza, hoje 9ª do ranking. Mordida após sofrer duas derrotas em 2018, para as duríssimas Claudia Gadelha (5ª) e Tatiana Suarez (3ª), a wrestler norte-americana certamente virá preparada para evitar as quedas da brasileira, mantendo a luta em pé, onde tem apresentado enorme evolução desde que passou a treinar com o mestre Oyama. Se conseguir manter a luta em pé, Esparza deverá usar sua maior experiência no Octógono para vencer por pontos. Mas caso a faixa-preta brasileira consiga derrubar, as chances de conseguir sua 12ª finalização em 15 lutas são muito grandes. Minha aposta é na vitória por pontos de Esparza.


Outro campeão mundial (mas de jiu-jítsu) que pega um estreante neste UFC Ft. Lauderdale é Gilbert “Durinho” Burns. Fazendo sua 11ª luta no UFC (sete vitórias), o faixa-preta de jiu-jítsu aceitou enfrentar o estreante Mike Davis. Com excelente nível de boxe e muito poder de nocaute, Davis sabe que sua única chance na luta é frustrar as quedas do brasileiro e conectar seu cruzado, que já levou à lona seis de seus sete oponentes no MMA. Neste confronto grappler x striker, apesar de toda evolução em pé que tem mostrado treinando na equipe da Flórida Hard Knocks 365, Durinho sabe que o caminho da vitória é o seu jiu-jítsu. Minha aposta é numa vitória do brasileiro por finalização no 2º round.

Dhiego Lima é o oitavo brasileiro neste card. Depois de se complicar com grapplers como Jesse Taylor e Yushin Okami, o goiano garantiu o emprego com um belo nocaute sobre o canadense Chad Laprise em sua última luta. Agora volta a enfrentar um wrestler. Court McGee também vem de vitória e deverá repetir a tática de Okami e Taylor para neutralizar o melhor jogo em pé do brasileiro. Dhiego sabe que mais uma vez terá o desafio de controlar a distância e evitar o solo. Se conseguir, o brasileiro tem grandes chances de conseguir mais um nocaute, mas caso McGee consiga impor seu jogo de grade, deverá levar na decisão.


E se você é daqueles que não perde um evento, vale lembrar que entre este UFC na Flórida (27 de abril), com 8 brasileiros, e o UFC 237 (11 de maio), com 15 brasileiros no card, ainda haverá mais uma edição do UFC no próximo sábado (4 de maio) no Canadá. Desta vez sem nenhum brasileiro no card, mas como sempre, com lutas muito bem casadas como o combate principal da noite entre Donald Cerrone e Al Iaquinta.

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