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Entrevistas

“O cinturão mostra que uma mulher pode o que quiser”

Fernanda Gomes, mulher de Jéssica Andrade, conta como está a vida da família da campeã peso-palha

Quando Jéssica Andrade venceu o cinturão peso-palha do UFC, na madrugada do dia 12 de maio, os saltos felizes de uma mulher sobre o octógono chamaram a atenção. Eram da bióloga Fernanda Gomes, mulher de Jéssica há três anos. Fernanda é, em grande medida, uma das responsáveis pelo êxito da lutadora – sua missão é, segundo ela própria, cuidar de tudo para que a atleta concentre-se apenas no que é importante: treinar e vencer. Aparentemente, o negócio deu resultado.

“O cinturão é uma coisa muito nova na nossa vida”, conta Fernanda, em uma pausa na agenda cheia de compromissos desde que Jéssica venceu. “A gente trabalhou muito para chegar até ele e agora ele está ao nosso lado o tempo todo. Junto dele, vêm inúmeras responsabilidades. Temos que nos desdobrar e trabalhar juntas para cumprir todos os compromissos que chegam com o título. A Jéssica agora é uma campeã e tem muita coisa na agenda para fazer.”

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Fernanda conta que o cinturão é um filho desejado. “E ele é um filho pesado, viu? A gente tem que carregar ele e mais um monte de obrigações que ele nos dá”, brinca a bióloga. “Mas estamos conseguindo lidar muito bem com isso e é muito bom ter ele aqui com a gente.”

Jéssica e Fernanda reviram a luta contra Rose Namajunas várias vezes. “Só no domingo, um dia depois, a gente viu a reprise da luta umas quatro ou cinco vezes. E todas as vezes a gente se emocionou como se estivesse vivendo aquele momento.”


A nova campeã dos palhas parou de dormir com o cinturão, diz sua mulher. “Parece que ela já se acostumou com a presença dele”, conta. “No primeiro dia, ela levou ele pro quarto e estava com um grande carinho por ele. Agora ele já virou mais um membro da família.”

Jéssica e Fernanda se conheceram em 2013 virtualmente, pelo Facebook. Marcaram de se encontrar quando ela chegasse em Umuarama, sua cidade-natal e local onde a bióloga morava. Uma série de imprevistos fez com que o encontro não acontecesse. “Cada uma seguiu então seu rumo na vida”, relembra Fernanda. Três anos depois, o reencontro. “Postei uma foto dela no Instagram dela, quando venceu a Jessica Penne, e ela comentou a minha postagem. Voltamos então a nos falar.” A amizade evoluiu para a vida real até virar um namoro. “A gente só foi se aproximando mais e mais. Até que chegou o momento de morarmos juntas e dividirmos o mesmo sonho.”

Hoje, Fernanda ainda usa conhecimentos específicos de sua área de graduação em fatores como a melhora da alimentação de Jéssica e na fisiologia dela como atleta – a bióloga até fez uma pós-graduação em nutrição esportiva para ajudar ainda mais a esposa. “Mas exerço muito mais a função de assessoria e de marketing do que a minha função de bióloga. Descobri que essa é a minha área, embora não tenha me formado nisso. Com o mestre Paraná como head coach e eu cuidando dessa outra parte, Jéssica só se preocupa com o principal, que é entrar no octógono e dar show.”

HERO - Jéssica Andrade walks to the Octagon before fighting Karolina Kowalkiewicz during the UFC 228

A atleta acaba de se matricular num curso intensivo de inglês – é essa a prioridade agora, já que compromissos internacionais vão ser mais frequentes. Ela e Fernanda também devem passar uma temporada fora do Brasil, para aprimorar o muay thai da campeã. “Queremos ganhar mais conhecimento. Agora que ela é campeã, a responsabilidade dobrou. Ela conseguiu chegar no topo, mas manter-se no topo é muito difícil. Temos ciência de que ela precisa se aprimorar muito mais para permanecer com esse cinturão muito tempo”, diz Fernanda.

As duas têm ainda o desejo de serem mães, e uma inseminação artificial está nos planos para o ano que vem. “O cinturão não atrapalha em nada. Ao contrário: só contribuiu para isso. Apesar das responsabilidades, tem a melhora financeira que ele traz, importante para termos uma vida mais estável. E ele é nosso primogênito, né? Foi quem veio primeiro, os outros vão ser irmãos dele”, brinca.

Fernanda acredita que o cinturão de Jéssica passa ao mundo duas mensagens muito importantes. “Uma delas é de que tudo é possível. Basta acreditar no seu sonho e trabalhar em busca dele. Não adianta ficar parado sentado no sofá achando que as coisas vão acontecer. Se não existe trabalho, não existe realização. Jéssica é uma menina simples que saiu do sítio e conseguiu ganhar o mundo, então todo mundo é capaz disso”.

Mas existe outro símbolo nessa vitória. “O mais importante é que a mulher pode ser o que ela quiser. Hoje a Jéssica é campeã do maior evento de MMA do mundo e ela é uma mulher casada com outra mulher. Então a mulher é grande, é forte, é guerreira e está conquistando seu lugar na sociedade em todos os sentidos.”