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O jiu-jítsu salvou a vida deste homem

Agora, ele criou a primeira startup para conectar atletas do mundo

O curitibano Maxon Prestes teria vários motivos para lamentar sua sorte. Aos 8 anos, perdeu a mãe de cirrose hepática. No ano seguinte, o pai morreu do coração. Ele viveu parte da infância na rua, passando fome e frio. Em 2011, teve uma depressão severa, que o deixou prostrado.

Mas o curitibano Maxon Prestes também tem vários motivos para festejar sua sorte. Aos 11 anos foi adotado “por uma família incrível”, segundo ele, que deu a ele “educação, caráter e honra”. Quando estava com a depressão, um amigo que queria praticar jiu-jítsu resolveu levá-lo junto, para ver se o esporte o ajudaria. Foi um tiro certo: ele renasceu das cinzas.

E aí começa sua história com a arte marcial.

“Não sou um cara revoltado, não há trauma na minha vida”, diz Maxon, aos 36 anos. “O jiu-jítsu me resgatou 100% da depressão. Me transformei em outra pessoa. Pensei que deveria existir muita gente no mundo precisando dele como agente transformador pessoal e profissional. Amo esporte e artes marciais, que me trouxeram onde estou hoje. Quis então devolver, porque sou um privilegiado.”

Em 2016, Maxon resolveu, portanto, devolver ao universo o que havia recebido dele. E criou um projeto social para dar aulas de jiu-jítsu para crianças carentes que funciona em uma igreja batista em Almirante Tamandaré, na periferia de Curitiba. O projeto atende hoje 45 crianças e adolescentes, que são todos federados e competem na Federação Paranaense de Jiu-Jítsu – grande parte está ranqueada.

“Sabe como é difícil manter projeto social, né? Sobrevivemos com as doações dos pais, é difícil alguém querer investir”, diz Maxon. Ele queria continuar o projeto porque viu que o esporte estava ajudando a resgatar aquelas crianças – uma de suas alunas, uma garota de 13 anos que estava envolvida com álcool, também foi ajudada pelo jiu-jítsu. “Pensei que teria que dar um jeito de monetizar o projeto, até para poder levar meus alunos para competir em outros estados e até países.”

Foi quando ele teve a ideia de montar uma plataforma para conectar lutadores de jiu-jítsu do mundo todo, a BJJ Progress. “Fui para a área da tecnologia. Estudei o mercado do jiu-jítsu por dois anos ininterruptos, sua expansão, as dores dos atletas, das academias. E desenvolvi o primeiro ‘superapp’ de artes marciais do mundo. O BJJ Progress fornece não somente ferramentas para gestão de academias, como é um potencializador de projetos sociais.”

Maxon e sua equipe mapearam vários projetos sociais do esporte no país, cadastrados nas federações de seus estados, para ligá-los a possíveis doadores. E o aplicativo vai servir também como uma rede social para os mais de 2 milhões de praticantes da arte suave no país – e os demais fãs do globo. “Equipes como a Gracie Barra ou a Checkmat, por exemplo, vão poder participar de uma enorme comunidade mundial.” Para isso, o BJJ Progress monitora 64 países do planeta em que há academias de jiu-jítsu brasileiro com professores brasileiros.

O app começou a ser desenhado no ano passado, mas só neste ano começou a ser desenvolvido, quando Maxon e seus sócios, Filipe Dutra, Cícero Joatan e Nilson Antônio de Oliveira Júnior, foram selecionados para participar do Worktiba Cine Passeio, coworking público inaugurado em abril deste ano pela prefeitura de Curitiba.

Lá, as mentorias da equipe do local e o network dos eventos que participou ajudaram a pensar em todas as funcionalidades do BJJ Progress – que também vai servir, segundo o idealizador, como marketplace de produtos e serviços relacionados ao esporte, quando o e-commerce começar a funcionar. “O lucro vai se revertido para meu projeto social e para outros país afora”, afirma o empreendedor.

Em setembro deste ano, ele recebeu sua primeira rodada de investimento. Um investidor-anjo adquiriu 35% da empresa com R$ 350 mil – o que significa que ela foi avaliada em R$ 1 milhão. O BJJ Progress está agora em teste com 200 atletas da Federação Paranaense de Jiu-Jítsu, que já ganharam uma carteirinha digital.

Em novembro, o aplicativo, que é gratuito, deve entrar nas lojas de apps como Google Play e Apple Store e funcionalidades como a rede social já vão estar no ar. Maxon acredita que até maio de 2020 todas as funcionalidades serã disponibilizadas – inclusive o e-commerce.

“Num primeiro momento, ele vai atender ao segmento de jiu-jítsu. Mas já fomos procurados por outras federações paranaenses e brasileira, como a de caratê, a de surfe e a de skate. Queremos multiplicar a plataforma para todos os esportes, porque isso é perfeitamente possível.”

O empreendedor já mira outros horizontes. “Não tem nenhuma startup de artes marciais no Vale do Silício. Devemos ir para lá no começo do ano que vem para algumas reuniões. E também recebemos um convite para ir para a China no segundo semestre do ano que vem, para aprender tudo sobre QR code.”

Maxon não esconde a felicidade pelo momento. “Fico até emocionado. Eu e minha mulher ralamos para deixar o projeto em pé, foi tudo do nosso bolso. Hoje temos essa condição um pouco melhor de ter um investidor acreditando nele.”

Ele garante, no entanto, que sempre vai ter tempo para as crianças de seu projeto. “Jamais vou permitir que esse negócio tome o tempo das minhas crianças. Isso é inegociável com meu time. Não vou parar de dar aula. Eles que me alimentam. Quero continuar pisando no tatame e ouvindo as crianças me perguntarem por que sou careca.”

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