Pular para o conteúdo principal
Blog do Marcelo Alonso

O lado positivo da perda do 3º cinturão brasileiro na China

Depois de assistir Elizeu Capoeira perder uma invencibilidade de sete lutas e, menos de meia hora depois, ver Jéssica Andrade perder seu cinturão em apenas 42 segundos, é muito difícil para qualquer fã brasileiro guardar boas lembranças deste UFC China.

Mas passada a ressaca e, de posse dos assombrosos números deste 3º show realizado na China, não há como deixar de reconhecer o lado meio cheio deste copo para o crescimento global do esporte.

Veja tambémJéssica Andrade fala após derrota na China | Mudanças nos rankings

Num país de 1.4 bilhão de habitantes (18% da população mundial) e que detém os status de 2ª economia do mundo, os impactos das vitórias de Zhang e Jingliang impressionaram até aos analistas locais. Depois de conquistar o primeiro cinturão chinês no maior evento de MMA do mundo, Zhang esteve entre os assuntos mais procurados do Baidu (uma espécie de Google chinês), no Weibo (Twitter chinês) foram mais de 300 milhões de hashtags sobre ela e 40 milhões de visualizações do vídeo da luta. Para completar, a conquista foi noticiada até na CCTV, a TV estatal chinesa que nunca havia citado o UFC no noticiário da TV local.

“E eu com isso?” poderia argumentar um fã brasuca mais exaltado, ainda abalado pela perda de mais um cinturão nacional. Nesta caso ninguém melhor que a própria Jéssica para responder: “É hora de voltar para casa, treinar forte e focar na reconquista do cinturão”. E aos 27 anos de idade, com "fome de treino" e ávida por evolução como é, alguém duvida que a atleta da PRVT cumprirá sua promessa?

O fato é que, ao contrário de outras divisões, onde o campeão parece estar um patamar acima dos outros, entre os palhas as habilidades das cinco principais atletas da divisão estão bem próximas. Tanto Jéssica, quanto Joanna, Namajunas, Tatiana Suarez e a agora campeã, Zhang, têm plenas condições de conquistar ou reconquistar este cinturão. A única certeza é que a divisão dos palhas tem tudo para ser uma das mais competitivas do evento, ainda por um bom tempo.

Novo “Eldorado” do jiu-jítsu

Posto isso, voltemos ao copo meio cheio. Se o mercado chinês já vinha empregando dezenas de faixas-pretas de jiu-jítsu brasileiro, as vitórias de Zhang e Jingliang no último sábado certamente alavancarão ainda mais este novo “Eldorado”. E a razão é óbvia, como explica o treinador da nova campeã. “O estilo forte aqui é o sanda (boxe chinês), mas nos países vizinhos há farto material humano de muay thai (Tailândia), boxe (Filipinas) e wrestling (Mongólia), já o jiu-jítsu brasileiro é artigo de luxo”, conta Pedro Brandão, faixa-preta de Vinicius Draculino (Gracie Barra), que há cinco anos lidera a equipe Black Tigers e teve participação fundamental na formação de Weili Zhang.

Desde 2008 no país, o líder da China Top Team e treinador de Li Jingliang, Ruy Menezes, compartilha do mesmo pensamento. “É difícil mensurar o impacto da vitória dos chineses no sábado. Minha referência foi o aeroporto quando voltamos para Pequim e o Li causou um tremendo rebuliço no saguão com dezenas de pessoas querendo tirar fotos com ele”, revela o faixa-preta de Carlson Gracie.

Menezes não tem dúvidas que a popularização do MMA vai se refletir numa explosão no mercado para faixas-pretas. “Até cinco anos atrás eu contava nos dedos de uma mãos os faixas-pretas brasileiros por aqui, mas de um ano para cá isso mudou muito. De qualquer maneira, o mercado aqui é gigantesco, muitas novas equipes estão surgindo e os chineses adoram o nosso jiu-jítsu, então não tenho dúvidas que ainda há espaço para muita gente”, garante Ruy.

Além de Menezes e Brandão, dois outros faixas-pretas brasileiros que já tiveram experiência no MMA tem sido muito elogiados na China: Marcelo Giudicci (Ryan Gracie) e Marlon Sandro (Nova União).

14 cinturões em 7 países

Se há 26 anos atrás alguém contasse a Hélio Gracie, após a homenagem que recebeu do filho Rorion no UFC 1, que um dia o seu Vale-Tudo seria um esporte mundial e o UFC teria campeões em quatro continentes, o mestre certamente soltaria uma gargalhada na cara do sujeito. De fato, seria impossível imaginar que, em tão pouco tempo, o esporte pudesse chegar a ser um esporte tão democraticamente globalizado.

E esta vitória de Weili Zhang veio a corroborar com isso. Basta uma rápida olhada na nacionalidade dos donos dos 14 cinturões do UFC hoje (12 lineares e 2 interinos): seis americanos, dois brasileiros, dois nigerianos, um russo, um australiano, uma  quirguiz e uma chinesa.

E esta globalização não se restringe ao UFC. Se levarmos em conta que o UFC é a Copa do Mundo do esporte, sonho de consumo de qualquer praticante, chega-se a números ainda mais impressionantes se dermos uma rápida olhada na agenda de eventos do Sherdog no mundo todo. Tenho feito isso todos os finais de semana nos últimos dois meses. A média semanal gira entre 40 e 50 eventos ao redor do mundo. E quando falo mundo, me refiro, além das potências do MMA, a países como Cazaquistão, Sérvia, Índia, Vietnã, Equador, Peru, onde o UFC nem sonhou em promover eventos, mas o esporte já é bastante popular. E se partirmos da média de 12 lutas por evento, chegamos ao impressionante número de 4000 lutadores empregados por mês lutando MMA nos quatro cantos do planeta. Lutadores que independente de suas nacionalidades, tem um único sonho: fazer parte do plantel do UFC.

É por isso que, mesmo com as derrotas de Jessica e Elizeu no último sábado, não há como deixar de estar otimista com os números conquistados na China e o impacto que este novo mercado pode gerar para o nosso esporte.