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Anderson Silva
Blog do Marcelo Alonso

Os 2 critérios que fazem de Anderson Silva o maior dentre os 5 grandes

Depois da histórica performance de Anderson Silva e Israel Adesanya no último sábado, numa luta que não só salvou o UFC 234 como lavou a alma dos fãs, era natural que o assunto que mais agrada aos fãs de qualquer esporte voltasse à tona.

Afinal, qual o maior lutador de MMA de todos os tempos? Se ainda existe debate no primo centenário, o futebol, que dirá no MMA, que acaba de completar 25 aninhos de vida. Jon Jones, Anderson Silva, GSP, Fedor Emelianenko ou Demetrious Johnson? O fato é que, dependendo do critério utilizado, qualquer um destes cinco grandes pode ser considerado o GOAT (Greatest Of All Time), como dizem os norte-americanos.

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Brasil

Não há como definir um matematicamente, até porque estão em jogo critérios subjetivos que devem levar em conta o gosto de cada fã. Eu, por exemplo, confesso que, até sábado, considerava Jon Jones o número um. Não só pelo fato de estar invicto aos 31 anos (idade em que Anderson estreou no UFC), mas por ser o mais completo em todas as áreas, além de ser, entre estes cinco grandes, o que enfrentou e venceu os oponentes mais duros de duas gerações.

Mas depois de assistir a exibição de Anderson Silva a dois meses de completar 44 anos, reavaliei meus conceitos baseado em duas premissas: GENIALIDADE (técnicas novas trazidas para o esporte) e RISCO (colocar em jogo o legado contra oponentes mais pesados e bem mais novos). Dois critérios que, acredito, devem merecer peso dois num esporte de alto risco como o MMA. Levando em conta estes dois critérios, juntamente com os mais objetivos, como nível técnico do lutador nas três áreas (striking, wrestling e solo), defesas de cinturão, mental (capacidade de reagir em adversidades) e nível dos oponentes vencidos, criei uma tabela pontuando os cinco grandes, que você pode acompanhar ao final deste texto.

A GENIALIDADE é um critério que impacta diretamente no desenvolvimento da modalidade, influenciando gerações futuras. Há de se levar em consideração também o fato de que o lutador que testa novas técnicas se coloca em posição de risco iminente. Quando baixou a guarda para atrair Forrest Griffin para aquele jab de encontro que entrou como um direto, Anderson se expôs a maior potência do cruzado do ex-campeão dos meio pesados. Situação parecida àquela em que se encurralou na grade pedindo para Stephan Bonnar golpeá-lo, sem nenhum espaço para recuo. Se um golpe do lutador, que pesava mais de 100kg no dia da luta, entrasse, certamente teria sido nocauteado em plena HSBC Arena.

E o que dizer daquela cotovelada contra Tony Fryklund no Cage Rage tirada de um videogame? Poderia ter dado as costas ao oponente ou mesmo ser surpreendido por um direto de encontro. Isto sem falar naquela ponteira certeira, nunca utilizada até então no MMA, que derrubou Belfort, e de um arsenal enorme de cotoveladas e joelhadas a partir do clinch na grade, que definiram várias vitórias do Spider. Todos, golpes geniais que nunca tinham sido aplicados no esporte e passaram a fazer parte desta grande caixa de ferramentas chamada MMA, e utilizadas por lutadores de gerações futuras como Jon Jones, Demetrious Johnson e até por seu clone Israel Adesanya. E vale ressaltar que, ao contrário do futebol, onde um erro numa tentativa de jogada genial significa, no máximo, uma perda da posse de bola ou de um gol, no MMA um pequeno excesso pode significar um nocaute, uma perda de cinturão ou até uma vergonha nacional. Como testemunhamos na histórica derrota de Anderson contra Weidman, quando o brasileiro passou de herói a vilão em segundos.

Um outro critério que precisa ser avaliado no MMA, acima de qualquer outro esporte, é o MENTAL DIFERENCIADO. A realidade dentro do Octógono é muito diferente dos filmes de “Rocky, o Lutador”. A capacidade de apanhar quatro rounds e finalizar o oponente no quinto, como Anderson fez naquela histórica primeira luta contra Chael Sonnen, é algo que precisa ser levado em consideração.

E o RISCO? Ao contrário de outros grandes campeões que preferiram não correr riscos em outras divisões, o Spider não só enfrentou Forrest Griffin e Stephan Bonnar entre os meio-pesados como aceitou uma luta com o atual campeão dos pesos-pesados, Daniel Cormier, a dois dias do UFC 200 (Jones tinha sido pego no doping e retirado do card). E Isso tudo uma semana depois de ter alta no hospital após uma cirurgia de apendicite. Como diria Carlson Gracie, "Uma ‘cascagrossagem’ sem precedentes".  Diante do pesadelo estilístico que representava o wrestler olímpico e ainda bem mais pesado, quase todos os especialistas do mundo apostavam num nocaute técnico por ground and pound até o segundo round. Me incluo entre eles. Anderson sabia que o risco das previsões se confirmarem eram enormes, mas preferiu se arriscar. Perdeu por pontos, mas mais uma vez protagonizou uma grande luta, levando perigo a DC em algumas oportunidades e calando o mundo.

Semana passada, aos 43 anos, Anderson mais uma vez se colocou na linha de tiro sendo apontado como zebra na proporção de 7 para 1.  Há dois anos sem lutar e sem os reflexos de outrora, poderia ter sido nocauteado no 1º round por Adesanya, terminando a carreira voltando a viver o pesadelo da primeira derrota contra Chris Weidman. Mais uma vez superou os pesadelos, as dores das contusões, as limitações da idade e colocou seu legado em jogo em prol do entretenimento, protagonizando mais um capítulo que vai ficar marcado na história do esporte.

Obviamente Jon Jones tem apenas 31 anos (idade em que o Anderson estreou no UFC) e, ainda estando invicto, tem tudo para bater os números do brasileiro, principalmente se aceitar se arriscar entre os pesados e vencer Cormier. Mas pelo impacto que causou ao esporte pela sua genialidade e pela irresponsabilidade de colocar seu legado em risco, Anderson Silva, na minha avaliação, ainda merece ser chamado de maior de todos os tempos.