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Blog do Marcelo Alonso

Os 7 desafios brasileiros no UFC Minnesota

Depois de um começo de ano em altíssimo astral com um percentual de vitórias acima da média, o MMA brasileiro teve um mês de junho que, pelo menos até aqui, poderia facilmente roubar de agosto o título de “mês do desgosto” no UFC. Sete brasileiros lutaram em três edições do evento e apenas Léo Santos teve o seu braço levantado (no UFC Estocolmo, 1º de junho).

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Mas junho não acabou e o último sábado do mês promete fortes emoções com a participação de mais sete representantes nacionais no UFC Minnesota.

Na luta principal, Junior Cigano dos Santos, 3º do ranking dos pesados, enfrenta o camaronês Francis Ngannou (#2), em um combate que tem todos os ingredientes para ser definido por nocaute antes do 5º round. O vencedor deverá ser o próximo desafiante ao cinturão dos pesos-pesados.

Uma vitória sábado também pode levar Jussier Formiga (#1), ou seu oponente Joseph Benavidez (#2), a um title-shot contra o campeão dos moscas Henry Cejudo.

A torcida brasileira verá ainda Demian Maia, 12º do ranking dos meio-médios, enfrentando o wrestler Anthony Rocco, que vem de uma sequência de quatro vitórias e luta por um lugar entre os Top 15 na divisão.

Completam o time brasileiro, Junior Albini (enfrentando Maurice Greene); Vinicius Mamute (lutando com Eryk Anders), Ricardo Carcacinha (que pega Journey Newson) e a estreante Amanda Ribas (que enfrentará Emily Whitmire).

Para aplacar um pouco a ansiedade natural com o evento compartilho abaixo uma análise detalhada sobre cada desafio brasileiro no próximo sábado.

Francis Ngannou x Junior Cigano

Depois de perder seu cinturão para Cain Velasquez em 2012 e passar por um período irregular marcado por lesões graves e, lamentavelmente, uma equivocada acusação de doping (o brasileiro comprovou contaminação cruzada e acabou absolvido pela USADA), Cigano se recuperou do inferno astral que marcou sua carreira entre 2013 e 2017 com uma seqüência de três vitórias sobre atletas ranqueados (Blagoy Ivanov, Tai Tuivasa e Derrick Lewis).

No próximo sábado, o brasileiro volta a lutar pela chance de recuperar seu cinturão, tendo pela frente um desafio gigante. Considerado o homem mais temido da divisão, o camaronês Francis Ngannou vem de dois nocautes avassaladores em menos de um minuto sobre Curtis Blaydes e Cain Velasquez, sendo favorito na proporção de 2,5 para 1 contra o brasileiro.

Mas será que tamanho favoritismo se justifica? Afinal de contas, ambos têm características parecidas, tendo o boxe como estilo predileto e a mão direita como principal arma. Fisicamente também se equivalem (na balança e na altura), apesar de Ngannou ter uma vantagem de 15 cm na envergadura.

Por outro lado, o brasileiro tem mais experiência e uma técnica mais refinada no boxe, já tendo inclusive vencido dois dos três lutadores que neutralizaram Ngannou: Derrick Lewis e Stipe Miocic.

Brasil

A principal justificativa para o favoritismo de Ngannou está mesmo na quilometragem do brasileiro. Enquanto o africano tem apenas quatro anos no maior evento do mundo, tendo vencido seis das suas 10 lutas no 1º round e só sofrendo algum tipo de punição na luta com Miocic (única luta de cinco rounds), Cigano tem submetido seu corpo ao limite nestes 11 anos de UFC, quando enfrentou alguns dos maiores pesos-pesados da história, tendo passado por várias guerras nas 19 lutas e quase 50 rounds que disputou.

Posto isso, fica claro que o melhor caminho para o brasileiro seria evitar expor seu queixo e trabalhar no ponto fraco de Ngannou, repetindo a tática de Miocic, que combinou boxe e wrestling neutralizando o gigante por cinco rounds.

Mas basta uma rápida conversa com Cigano e seus principais treinadores para entender que não será esta sua estratégia. Apesar de treinar na ATT e ter um dos maiores treinadores de wrestling (Steve Mocco) a sua disposição, Cigano não esconde de ninguém que não pretende fugir de suas características contra o africano. Vai mesmo lutar boxe. Das 10 lutas que fez no UFC, Ngannou venceu oito (seis no 1º round e duas no 2º). Suas únicas derrotas foram contra os oponentes que conseguiram passar do 2º round, quando a potência e capacidade de nocaute do camaronês diminuem muito. Certamente o experiente mestre Luiz Dórea deve ter trabalhado muito a movimentação do brasileiro, evitando se encurralar na grade e sempre contragolpeando com sua potente direita, para manter o “respeito”, como fez Derrick Lewis.

Se conseguir passar do 2º round, as chances do brasileiro aumentam, mas dado o seu poder de nocaute, não há como negar o favoritismo de Ngannou.

Jussier Formiga x Joseph Benavidez

Seis anos depois de sofrer um nocaute técnico no 1º round para Joseph Benavidez, o brasileiro Jussier Formiga terá a chance de vingar a derrota em grande estilo numa luta que provavelmente definirá o próximo desafiante ao cinturão de Henry Cejudo. Obviamente, se Dana White cumprir a promessa de não acabar com a divisão dos moscas, que hoje só tem 12 remanescentes.

O ponto mais interessante desta luta é que Formiga e Benavidez são lutadores totalmente diferentes da primeira luta.

A mudança para a ATT em 2017 repaginou inteiramente o jogo do brasileiro que deixou de ser o faixa-preta de jiu-jitsu previsível e unidimensional de outrora para se transformar num lutador dinâmico e completo que passou a apresentar um jogo de muita velocidade que alterna quedas e um bom kickboxing. O resultado prático disso é uma seqüência de quatro vitórias.

Brasil

Já Benavidez, que na primeira luta só precisou de 3m07s para nocautear o brasileiro a partir de joelhadas no corpo, tem mostrado uma clara queda de rendimento desde que casou e se mudou para Las Vegas, onde obviamente não encontra o mesmo nível de sparrings no seu peso que tinha na Califórnia em sua equipe de origem, a Team Alpha Male.

Após sua questionável vitória sobre Cejudo em 2016, Benavidez teve uma lesão grave no joelho. Operou e ficou 2017 sem lutar. Retornou perdendo para Sergio Pettis na decisão (o mesmo Pettis perderia para Formiga na decisão quatro meses depois). Cinco meses após a derrota, no entanto, Benavidez se recuperou com um belo nocaute sobre Alex Perez e um convincente 29 x 28 contra Dustin Ortiz.

Em entrevista ao Combate.com, Benavidez reconheceu que Formiga é um lutador muito melhor se comparado à primeira vez que se encontraram e surpreendeu ao declarar que espera mostrar que é superior ao brasileiro no solo. Hipótese remota, até porque, apesar de realmente ter um nível excelente no solo, Benavidez costuma dar as costas (como fez com Ortiz), o que seria um erro fatal contra o faixa-preta de Jair Lourenço. Acredito que Benavidez busque a vitória usando sua velocidade, trocando de base e variando entradas de quedas com sua potente mão direita.

Esta pelo menos é a tática que foi treinada pelo brasileiro na ATT. Formiga trabalhou muito a parte de movimentação de boxe para neutralizar as perigosas entradas de Benavidez, bem como sua potente direita. Sem dúvida, esta tem tudo para ser uma das mais disputadas lutas da noite. Mas pela evolução apresentada nas duas últimas lutas, quando venceu claramente os duríssimo Sergio Pettis e Deiveson Figueiredo, vejo Formiga como favorito neste segundo encontro.

Demian Maia x Anthony Rocco Martin

Entre 2014 e 2017, Demian conseguiu a impressionante seqüência de sete vitórias consecutivas que lhe garantiram lutar pelo título contra Tyron Woodley. Para tristeza dos fãs brasileiros, o campeão conseguiu mapear o jogo de quedas do faixa-preta e venceu a luta na decisão após cinco rounds. Na seqüência, os outros dois grandes wrestlers da divisão, Colby Covington e Kamaru Usman, repetiram a tática de Woddley e venceram o brasileiro. Também na decisão.

Aos 41 anos de idade, após perder 10 posições no ranking (de 2º para 12º), vindo de três derrotas consecutivas, muitos poderiam pensar que o faixa-preta de jiu-jítsu de Fábio Gurgel se desmotivaria, mas nove meses após a derrota para o atual campeão Kamaru Usman, Demian voltou ao Octógono mostrando ao duríssimo Lyman Good que neutralizar seu jogo não é tarefa simples. Em apenas 2m38s o brasileiro buscou o o single leg, chegou às costas e aplicou seu famoso mata-leão no atleta da Tiger Schulmann.

No próximo sábado, Demian volta a enfrentar um bom wrestler não-ranqueado que busca um lugar entre os Top 15 da divisão dos meio-médios.

Brasil

Depois que subiu para a divisão dos meio-médios, Anthony Rocco Martin engatou uma seqüência de quatro vitórias, sendo a última sobre o também campeão de jiu-jítsu Sérgio Moraes, que teve sérias dificuldades para derrubar e manter o wrestler no chão. Mas o fato de vir de um camp para um lutador com características parecidas com Demian pode ser considerado um ponto positivo para o americano, que foi novamente treinado pelo wrestler Mike Brown e apoiado por um sparring de luxo, Gleison Tibau. A novidade neste camp foi  Anderson França (mestre de Edson Barboza), que afiou o kickboxing do americano.

Caso consiga frustrar as quedas do brasileiro, Martin tem grandes chances de  vencer por pontos, mas vale lembrar que o nível de wrestling do atleta da ATT não chega nem perto dos três tops da divisão que neutralizaram Demian anteriormente. E a maior prova disso é que Sérgio Moraes o derrubou em todos os três rounds da luta, só não conseguindo mantê-lo no chão. Um outro ponto positivo em favor do brasileiro aqui é que Martin quando derrubado, tem uma tendência de dar as costas, o que pode ser fatal numa luta com Demian. Minha aposta é em mais uma vitória por finalização de Demian.

Ricardo Carcacinha x Journey Newson

Depois de um início avassalador com três vitórias, Ricardo Carcacinha sofreu o primeiro nocaute de sua carreira em sua última luta contra o russo Said Nurmagomedov em fevereiro. Uma luta que escancarou um ponto fraco do talentoso paulista: a necessidade de dosar a agressividade e corrigir as brechas em seu sistema defensivo. Para isso, o brasileiro buscou treinos na Hard Knocks 365 e, quatro meses depois da segunda derrota na carreira estará de volta ao Octógono no próximo sábado.

Inicialmente seu oponente seria Sergio Pettis. Um combate que teria tudo para disputar o bônus da noite, mas infelizmente Pettis se contundiu e a organização convidou para substituí-lo o estreante Journey Newson, que vem se destacando no circuito local americano com sete vitórias em oito lutas.

Newson é um lutador consistente com poder de nocaute e que não foge a uma boa trocação. Um ótimo teste para o brasileiro testar sua evolução e, quem sabe, anotar suas 13ª vitória em 15 lutas. Carcacinha é franco favorito, mas o agressivo Newson será um ótimo teste para que ele comece a dosar melhor sua agressividade ajustando seu arsenal defensivo.

Eryk Anders x Vinicius Mamute

Faixa preta de jiu-jítsu de Pedro Galiza (BTT), Vinícius Mamute é um exemplar cada vez mais raro no MMA atual: um lutador 100% dependente de uma modalidade. Em seu caso, o jiu-jítsu.

Depois de fazer várias lutas no circuito regional e se consagrar vencendo um torneio de MMA na Índia, o goiano conseguiu uma chance no Contender Series, onde finalizou Jon Alan e garantiu um contrato no UFC.

Em sua estréia no UFC, no entanto, o brasileiro não deu sorte na escolha de seu oponente. Com um bom wrestling defensivo e poder de nocaute, Alonzo Menifield frustrou o jogo de Mamute e o venceu por nocaute técnico ainda no 1º round.

A volta, cinco meses depois, seria inicialmente contra um striker. Mas o lutador se machucou a duas semanas do evento e o UFC acabou encontrando Eryk Anders, outro wrestler com poder de nocaute, só que muito mais experiente e atlético que Alonzo. O americano que em sete meses fez duas lutas principais em eventos no Brasil (contra Lyoto e Thiago Marreta) vem de lutas duras com oponentes ranqueados. Por esta razão é, na minha opinião, o maior favorito deste card. Pesa em favor do brasileiro o fato de Anders estar vindo de três derrotas consecutivas e bem próximo do RH. Mas a julgar pelo casamento tático da luta, o americano tem tudo para voltar a vencer.

Emily Whitmire x Amanda Ribas

Depois de ficar afastada por quase dois anos por conta de uma suspeita de doping infundada (acabou sendo comprovada a contaminação cruzada), a mineira de Varginha Amanda Ribas finalmente fará sua estréia na categoria palha no maior evento de MMA do mundo.


Mas a faixa-preta de judô, campeão mundial de jiu-jítsu e campeão mundial amadora de MMA não terá moleza pela frente. Wrestler da equipe Xtreme Couture, Emily Whitmire está vindo de uma seqüência de duas vitórias no UFC. Descoberta no TUF 26, ela perdeu para a vice-campeã Roxanne Modafferi por nocaute técnico nas quartas-de-final e fez sua estreia no UFC na categoria mosca, quando foi finalizada por Gillian Robertson. Depois disso, Emily desceu para a categoria palha onde se adaptou melhor, conseguindo duas vitórias claras sobre as Jamie Moyle (decisão) e Aleksandra Albu (mata-leão no 1º round).

Assim como a brasileira, Whitmire tem como ponto forte o jogo de quedas, apesar de ter mostrado clara melhora em seu kickboxing em suas últimas lutas. A judoca brasileira também tinha a parte da trocação como calcanhar de Aquiles, pelo menos até sua última luta, quando conquistou o cinturão do Max Fight contra a mexicana Jennifer Gonzalez. Mas segundo seu mestre e pai, Marcelo Ribas, Amanda aproveitou os quase três anos fora dos cages para aperfeiçoar seu muay thai e promete surpreender a americana. A brasileira fez o camp na ATT com Marcos “Parrumpinha” da Matta, que aposta que a pupila conseguirá derrubar definindo a luta com sua especialidade, o katagatame.

Este combate tem tudo para ser um dos mais disputados da noite. Ambas são grapplers de altíssimo nível, extremamente agressivas e explosivas. Se conseguir frustrar as quedas da brasileira, Whitmire tem mais chances de levar a luta na decisão ou por nocaute, mas caso a judoca consiga uma queda, o que acho bastante provável, certamente a wrestler estará em maus lençóis.

Maurice Greene x Junior Albini

Depois de um início promissor quando nocauteou o experiente Timothy Johnson no 1º round, Junior Albini sofreu uma seqüência de três derrotas no UFC (Arlovski, Jairzinho Rozenstruik e Aleksei Oleynik) e agora luta pelo emprego contra o kickboxer Maurice Greene.

Revelado no TUF 28, o gigante de dois metros de altura venceu suas duas lutas no UFC contra oponentes bem inferiores aos enfrentados por Albini.

Depois de três rounds com Arlovski e um bom primeiro round com Jairzinho Rozenstruik, o brasileiro não tem razões para temer Greene. E se repetir a tática que aplicou contra Jairzinho no 1º round (neutralizou o kickboxer com quedas), tem tudo para vencer a luta e se manter empregado. Esta é a minha aposta.

Em caso de derrota, porém, a demissão é quase certa para o paranaense, tendo em vista a enorme concorrência de novos talentos brasileiros batendo na porta do UFC. Nomes como Giácomo Lemos, Rodrigo “Zé Colméia”, Ricardo Praça e Renan Problema, o gigante de 2,03m que, se vencer o torneio dos pesados do LFA, tem grandes chances de chegar ao UFC.

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