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Blog do Marcelo Alonso

Os próximos passos de Faber e Randamie

E a virada dos “coroas” no placar do duelo de gerações em 2019

Na semana em que internautas do mundo todo se divertiram ficando mais velhos com a ajuda do aplicativo Face App, quem roubou a cena no MMA foi o quarentão Urijah Faber. Após quase três anos afastado do UFC, o líder da Team Alpha Male voltou da aposentadoria nocauteando em 46 segundos o então 15º da divisão dos galos, Ricky Simon, de apenas 26 anos de idade, levando ao delírio a sua torcida que lotava as arquibancadas em Sacramento, no último sábado.

Veja também: A ciência da dor | Marlon Moraes desafia Faber

E foi usando sua experiência dentro e fora do Octógono que Faber aproveitou a entrevista logo após a luta para tentar cavar um confronto com o atual campeão da divisão, Henry Cejudo. O detalhe curioso é que Cejudo chegou a treinar na Team Alpha Male em 2012 logo que deixou o wrestling. Sua ideia inicial seria partir para o boxe profissional, mas Faber o teria convencido a seguir no MMA. “Quem sabe um dia não lutamos?” teria dito Cejudo, após o papo que mudou inteiramente seu destino. Pois, sete anos se passaram e cá estão os dois novamente.

Como o UFC adora uma boa narrativa para vender lutas e Urijah sempre foi um dos mais populares da divisão, não seria nenhuma surpresa se o líder da Alpha Male, que tem três lutas em contrato e agora é o 14º da divisão, conseguisse um atalho com mais uma ou duas lutas. O próprio campeão pareceu gostar da ideia. Tanto que não tardou a respondê-lo em suas mídias sociais: “Coroa da Califórnia, você tem que se ajoelhar e entender que o rei das duas divisões mais leves do UFC sou eu”, respondeu Cejudo municiando o departamento de propaganda da empresa, caso um dia a luta saia mesmo do papel.

A questão aqui é que para construir uma narrativa que fizesse um mínimo sentido para os fãs, o veterano precisaria, no mínimo, vencer um Top 5, tarefa nada simples em uma divisão como a dos galos.

Vale lembrar que as duas últimas derrotas de Faber, em 2016, foram para Jimmie Rivera (atual 8º do ranking) e Dominick Cruz (atual 6º). Desnecessário dizer que o caldo engrossa ainda mais entre os Top 4, onde estão Marlon Moraes (#1), Aljamain Sterling (#2), Raphael Assunção (#3) e Petr Yan (#4).

Para ter a possibilidade de lutar com Cejudo, Faber teria que vencer alguma destas pedreiras. Tarefa indigesta, mas em se tratando deste membro do Hall da Fama, que construiu sua carreira em cima de grandes desafios, nada é impossível.

Cyborg ou Randamie: quem fará a revanche com Amanda?

Ao contrário de Faber, que deixou a arena em Sacramento ovacionado pela torcida, a holandesa Germaine de Randamie foi muito vaiada, mesmo tendo terminado a luta com Aspen Ladd em apenas 16 segundos. Na realidade, as vaias eram dirigidas ao árbitro Herb Dean, que na opinião dos torcedores, interrompeu a luta de maneira muito prematura.

Eu discordo. Na minha visão, o soco de Randamie conectou o queixo da americana com precisão, levando-a a cair no solo de quatro, totalmente desnorteada, e vulnerável aos golpes da holandesa. Ao perceber que Germaine se aproximava e Ladd nem fazia menção de virar de frente para fazer guarda, ou se proteger dos socos, o árbitro intercedeu para proteger a integridade física da atleta. A maior prova de que Ladd estava realmente desnorteada e que atitude do árbitro não foi precipitada foi a própria reação da atleta na entrevista após a luta.

O fato é que com esta bela vitória sobre a então número 4 da divisão, Randamie poderia ter  carimbado a disputa do cinturão em uma revanche com Amanda Nunes já na próxima luta, mas tudo deve depender das negociações de Cris Cyborg e o UFC.

A poucas semanas da última luta de seu contrato contra a ex-campeã do Invicta, Felicia Spencer, no UFC 240 (27 de julho), Cyborg tem dito que não tem interesse em assinar um contrato de muitas lutas. Para o UFC, obviamente, não interessa assinar um contrato de uma luta só com a ex-campeã. Enquanto o cabo de guerra continua, a torcida dos fãs é para que as duas partes cheguem logo a um acordo, até porque esta revanche teria um apelo absurdo de vendas de pay per view. Uma luta onde a vencedora não sairia apenas com o cinturão dos penas, mas com o título definitivo de maior lutadora de MMA de todos os tempos.

Caso Cyborg vença Spencer e renove com o UFC, certamente Amanda defenderá primeiro o cinturão peso-pena contra ela, até porque a baiana acabou de defender o título dos galos contra Holly Holm. Neste caso, Randamie deverá fazer mais uma luta antes da revanche com a campeã.

Se isso ocorrer, a única oponente que faria sentido seria Ketlen Vieira, invicta em 10 lutas e 2ª do ranking. Segundo me disse seu treinador André Pederneiras, Ketlen deve voltar ao Octógono em novembro. Tempo perfeito para uma eliminatória com a número 1 do ranking.

Mas caso Cyborg perca para Spencer no dia 27 de julho ou não renove com o UFC, a ordem das defesas pode mudar. Neste caso Amanda poderia enfrentar primeiro Randamie (e Spencer ficaria esperando).

A virada dos veteranos no confronto de gerações: 8x7

Há alguns meses venho enfatizando neste blog que a disputa mais acirrada no MMA na atualidade não é entre estilos (strikers e grapplers), nações (Brasil e Estados Unidos) nem modalidades (wrestling x jiu-jítsu). Com o “envelhecimento” natural do esporte tem sido cada vez mais frequente, o confronto entre atletas próximos da aposentadoria e novatos, que começam a se destacar, como vimos nas duas lutas principais do UFC no último sábado.

E são estes combates que, normalmente confrontam a força e explosão dos mais novos e a experiência e inteligência tática dos mais velhos, que têm chamado cada vez mais a atenção dos fãs, principalmente pelo impressionante equilíbrio no placar.

Até o UFC 237, os novatos vinham vencendo por 5x4, até que no UFC Estocolmo, Léo Santos empatou (5x5) ao nocautear Stevie Ray, e na mesma noite, Aleksandar Rakic (nocauteou Jimi Manuwa) marcando 6x5 para os “Leões Novos”.

O empate (6x6) ocorreu duas semanas depois com a vitória do veteraníssimo Demian Maia sobre Tony Martin. Mas na seqüência, no UFC 239, Arnold Allen cenceu Gilbert Melendez na decisão, voltando a colocar a nova geração na dianteira: 7x6.

Até que, no último sábado, os coroas viraram o jogo novamente com os belos nocautes de Urijah Faber e Germaine De Randamie: 8x7. O detalhe curioso é que cinco das sete vitórias dos novatos vieram por decisão e sete das oito vitórias dos veteranos aconteceram por nocaute ou finalização. Afinal de contas, não eram os mais velhos mais táticos e cerebrais e os mais novos mais explosivos e nocauteadores? Exatamente aí que está o grande charme do MMA, a imprevisibilidade.

E se até o meio do ano o placar já se alternou várias vezes, imagine as emoções que estão reservadas para os próximos seis meses. Basta uma rápida olhada nos cards das próximas semanas para reconhecermos alguns clássicos que prometem movimentar o nosso placar: Edgar (37) x Holloway (27);  Yoel Romero (42) x Paulo Borrachinha (28); Massaranduba (40) x Alexander Hernandez (26), Raphael Assunção (36) x Cory Sandhagen (27).

Vitórias dos veteranos em 2019

1- Diego Sanchez (37)  sobre Mickey Gall (27) – TKO R2

2- Donald Cerrone (36) sobre Alexander Hernandez (26) – TKO R2

3- Glover Teixeira (39) sobre Karl Robertson (28) – Finalização R1

4- Glover Teixeira (39) sobre Íon Cutelaba (25) – Finalização R2

5- Leonardo Santos (39) sobre Steven Ray (29) – KO R1

6- Demian Maia (40) sobre Anthony Rocco (29) - Decisão

7- Urijah Faber (40) sobre Ricky Simon (26) - TKO R1

8- Germaine de Randamie (35) sobre Aspen Ladd  (24) - TKO R1

Vitórias dos novatos em 2019

1- Israel Adesanya (29) sobre Anderson Silva (44) – Decisão

2- Jack Hermansson (31) sobre Ronaldo Jacaré (39) – Decisão

3- Augusto Sakai (28) sobre Andrei Arlovski (40) - Decisão

4- Laureano Staropoli (26) sobre Thiago Pitbull (35) – Decisão

5- Ryan Spann (27) sobre Rogério Minotouro (42) – KO

6- Arnold Alen (25) sobre Gilbert Melendez (37) - Decisão

7- Aleksandar Rakic (27) sobre Jimi Manuwa (39) – KO R1

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