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Blog do Marcelo Alonso

Os próximos passos para Rafael dos Anjos e Junior Cigano

O final de semana não foi dos melhores para o MMA nacional. Dos quatro brasileiros em ação no UFC Raleigh, só Herbert Burns saiu vencedor. O irmão de Gilbert “Durinho” mereceu inclusive 50 mil dólares de bônus pela Performance da Noite já em sua estreia.

Nas duas lutas mais importantes do evento, os ex-campeões Rafael dos Anjos e Junior Cigano foram surpreendidos respectivamente por Michael Chiesa e Curtis Blaydes. Na realidade, a grande surpresa da noite foi a derrota do favoritíssimo Dos Anjos, 5º do ranking dos meio-médios, para o ainda não ranqueado Michael Chiesa.

Veja também: Personalidades do MMA reagem ao nocaute de Blaydes

Depois de fazer cinco lutas de cinco rounds nos últimos dois anos, todas contra oponentes do topo do ranking, Rafael entrou claramente desmotivado e muito menos agressivo que o normal. Já Chiesa fez o dever de casa copiando com perfeição, principalmente no 1º e 3º rounds, o jogo de Colby Covington que havia neutralizado o brasileiro na disputa pelo cinturão interino em 2018. Com uma tática baseado em muito volume de quedas para não permitir que o brasileiro impusesse sua melhor técnica em pé, Chiesa venceu sua 3ª luta consecutiva na nova divisão e deve estrear entre os Top 10.    

Ao contrário de Rafael, a derrota de Cigano era esperada. Considerado o segundo melhor wrestler da divisão dos pesados (atrás apenas do ex-campeão Cormier), Curtis Blaydes derrubou todos os nove oponentes que enfrentou na categoria, por isso era tido como um casamento tático horrível para o boxeador brasileiro. A grande surpresa foi a estratégia usada pelo americano que soube usar as fintas com maestria para neutralizar os ataques do brasileiro e conectar bons golpes, definindo a luta em pé no início do 2º round. Após a luta, o próprio Cigano reconheceu em entrevista ao Combate.com que ficou tão preocupado com as quedas de Blaydes que se esqueceu de impor seu boxe.


Méritos para Blaydes e Chiesa. MMA é assim mesmo, ainda mais em se tratando de dois ex-campeões que continuam no topo de suas divisões. Indiscutivelmente Cigano teve uma clara queda de rendimento se comparado com os seu início no UFC, quando roubou o cinturão de Velasquez após enfileirar sete oponentes em três anos. Mas depois de sofrer quatro nocautes, obviamente, o corpo cobra um preço. Seja na redução da velocidade, dos reflexos ou na capacidade de absorção de golpes. De qualquer maneira, na atual conjuntura dos pesados, há de se reconhecer que Cigano ainda continua competitivo, basta dizer que chegou ao Top 4 depois de enfileirar Ivanov, Tuivasa e Derrick Lewis. O fato é que nos últimos quatro anos só perdeu para o campeão e para o 2º e 3º da divisão. Sinceramente não acredito que Cigano volte a disputar o cinturão, mas dentro da atual realidade da divisão ainda o vejo em condições de protagonizar bons combates com a maioria dos ranqueados.

Apesar de ter a mesma idade de Cigano, Rafael dos Anjos vive uma realidade totalmente distinta. Mesmo tendo protagonizado dezenas de batalhas sangrentas em suas 42 lutas de MMA (29 no UFC), o niteroiense não sofreu tantos danos físicos quanto o compatriota peso-pesado, talvez por isso ainda não apresente consequências claras de uma possível desaceleração da carreira. A grande questão é que Dos Anjos, além de ser o menor meio-médio ranqueado nesta divisão, teve um ponto fraco de seu jogo (defesa de quedas) desvendado e agora precisa reagir tentando trazer algum antídoto tático para este xadrez. Não acredito que o caminho ideal para Rafael, aos 35 anos de idade e com 42 lutas na carcaça, seja voltar a sofrer na desgastante guerra com a balança, até mesmo porque o panorama da concorrência entre os Top 15 na divisão dos leves é ainda pior, ainda mais tendo sua capacidade de absorção de golpes claramente abalada pela desidratação, como ele mesmo já reconheceu.

Werdum x Cigano e Dos Anjos x Ponzinibbio no UFC São Paulo?

Mas quem conhece Cigano e Dos Anjos sabe que o perfil deles não é de ficar remoendo derrotas. Muito pelo contrário. Tanto que ambos concederam entrevistas após o evento pedindo para voltar o quanto antes.

Levando em conta que, mesmo com a derrota, ambos devem continuar entre os 10 melhores de suas divisões, eu sugeriria duas possibilidades interessantes, quem sabe para abrilhantar o card do UFC 250, que tem sido cogitado para ocorrer em maio em São Paulo.

Fabrício Werdum disse semana passada que conseguiu resolver seus problemas com a USADA e estaria habilitado para voltar ao Octógono em abril. Já imaginaram o peso de um duelo de dois ex-campeões pesados que tem uma rivalidade genuína num virtual primeiro UFC numerado na capital paulista?

E por falar em rivalidade. Já imaginaram um Brasil x Argentina neste UFC 250?  Rafael dos Anjos e o “argentino gente boa” Santiago Ponzinibbio cansaram de trocar farpas na internet e tem um estilo muito parecido, que certamente proporcionaria uma grande luta. Os dois já disseram que querem se enfrentar. Se os matchmakers gostarem da ideia, esta seria mais uma virtual possibilidade de Luta da Noite para o UFC 250.

Nos passos do irmão

Voltando ao UFC Raleigh, não podemos deixar de ressaltar a atuação espetacular de Herbert Burns em cima do duríssimo Nate Landwehr, que vinha de uma seqüência de sete vitórias.

Assim como Blaydes x Cigano, a grande maioria dos analistas previa que este seria um típico duelo de estilos: grappler x striker, mas assim como Blaydes, Burns surpreendeu o campeão do M-1, aplicando uma bela joelhada e definindo a luta em pé. Uma atuação que mostra a rápida evolução do peso-pena brasileiro. Obviamente fruto do excelente nível de sparrings que dispõe na Hard Knocks 365, onde treina ao lado do irmão, Durinho, Vicente Luque e o campeão Kamaru Usman.

Brasil

Com a visão e experiência que já tem do esporte, certamente seu irmão terá uma função importante na gestão de sua carreira. Se conseguir influenciar seus empresários na escolha dos oponentes corretos, Burns tem tudo para chegar em breve no Top 15 do ranking. Excelente momento, por sinal. Afinal de contas hoje os dois únicos representantes brasileiros na divisão, devem mudar de categoria. José Aldo (9º) descendo para os galos e Renato Moicano (7º) subindo para os leves.

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