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Blog do Marcelo Alonso

Os resultados práticos dos 14 milhões investidos na ciência do MMA

Perdi a conta dos artigos que escrevi aqui no blog enaltecendo a tal imprevisibilidade, que faz do nosso MMA um esporte tão apaixonante.

Pois nos últimos dois finais de semana ela voltou a dar as caras, tanto na vitória de Masvidal sobre Darren Till (no UFC Londres), quanto no espetacular nocaute de Anthony Pettis sobre Stephen Thompson (no UFC Nashville).

Dois casos onde a diferença de tamanho foi um fator preponderante na escolha dos favoritos, tanto por parte dos fãs, quanto dos especialistas. O fato é que quase ninguém acreditava que o ex-campeão peso leve do WEC e UFC, que já se aventurou entre os penas, pudesse nocautear no segundo round um dos maiores pesos meio-médios do evento, que vem de 10 rounds de guerra contra o ex-campeão Woodley e já nocauteou o atual campeão dos médios Robert Whittaker.


Raciocínio semelhante fez a maioria acreditar que um dos maiores lutadores da divisão dos meio-médios (Darren Till) seria favorito absoluto contra o ex-peso-leve Jorge Masvidal no UFC Londres. E também apontar o campeão dos galos TJ Dillashaw como favorito contra Henry Cejudo em sua divisão (mosca), no primeiro evento do ano de 2019.

Todos estes casos têm em comum o fato de a zebra ser o lutador que, apesar de ser menor, estava mais saudável, exatamente pelo fato de não ter precisado passar pelo penoso processo de desidratação.

Dois anos do Instituto de Performance

O aumento da freqüência de episódios onde os atletas foram obrigados a sair do evento a menos de 24 horas do show (Renan Barão, Max Holloway e Uriah Hall) fizeram os dirigentes do UFC perceber que era hora de virar esse jogo. Afinal, se o MMA é um esporte profissional que tem por objetivo o entretenimento dos fãs e o retorno financeiro às suas maiores estrelas, não fazia o menor sentido continuar seguindo num caminho, comum em esportes amadores como wrestling, judô e boxe, mas que certamente impactaria não só na performance mas também na longevidade dos atletas.

Foi então que em 2017 o UFC decidiu investir 14 milhões de dólares na ciência do esporte criando um Instituto de Performance localizado num prédio de dois andares em Las Vegas (área total de 2780 m²). Lá foram instalados os equipamentos mais modernos nas áreas de fisiologia, condicionamento físico, performance, nutrição, força e fisioterapia. E para operar o que há de mais moderno em termos de ciência esportiva no mundo, o UFC contratou os melhores profissionais do mercado em suas respectivas áreas.

Menos de dois anos após sua inauguração, há de se concluir que os investimentos valeram muito a pena.

Embasados por testes científicos de força e fisiológicos feitos no PI, vários atletas passaram a ter confiança em subir de categoria. Um bom exemplo disso é Thiago Marreta, que em seu teste de força descobriu que estava acima da média dos Top 10 dos meio-pesados. Respaldado pelos dados científicos, o carioca teve confiança para abandonar a divisão dos médios, sem precisar mais enfrentar o traumático processo de desidratação que afetava sua performance nas lutas. Resultado: seis meses após o primeiro teste, Thiago enfileirou quatro oponentes e, segundo Dana White, deverá disputar o cinturão dos meio-pesados com Jon Jones em breve.

Anthony Pettis é outro exemplo. Depois de anos arriscando sua saúde para lutar entre os penas e passando dificuldades para bater o limite dos leves, resolveu lutar próximo ao seu peso natural (meio-médio), após passar por uma bateria de testes em Las Vegas. O resultado nós vimos no último sábado. Com a vitória sobre Thompson, Pettis deverá pular do oitavo lugar do ranking dos leves para terceiro ou quarto entre os meio-médios, trazendo mais emoção para a divisão.

Também embasado por testes científicos, Henry Cejudo aceitou subir para disputar o cinturão vago dos galos com Marlon Moraes, como revelou informalmente Dana White no último final de semana.

A importância do descanso

O mais interessante destes processos de pesquisa feitos no Instituto de Performance do UFC é que cada atleta é estudado a fundo em todas as suas valências e orientado de acordo com suas necessidades específicas. O atual campeão do peso-meio-médio, Kamaru Usman, por exemplo, fez todo o trabalho de nutrição para a luta contra Tyron Woodley com o apoio dos profissionais do PI, que graças ao suporte de parceiros, forneceram gratuitamente todo o material para nutrição e suplementação do atleta durante o camp.

Jessica Eye, que no dia 8 de junho, enfrentará Valentina Shevchenko pelo cinturão peso-mosca (UFC 238), já se mudou para Las Vegas onde vem fazendo todo o trabalho de preparação e nutrição para a disputa do cinturão.

Outra desafiante que vem merecendo atenção especial do staff técnico do PI é a paranaense Jéssica “Bate-Estaca” Andrade, que disputa o cinturão peso-palha contra Rose Namajunas no dia 11 de maio no Rio (UFC 237). Curiosamente, além da força, o que chamou a atenção dos cientistas com relação a brasileira foi o excesso de treinos que vinham causando importantes alterações fisiológicas. De posse dos exames, Jéssica aprendeu que tinha que mudar  radicalmente sua rotina e passar a priorizar o descanso entre os treinos. No PI, a lutadora recebeu um aparelho chamado Omega Wave, que pode ser usado em conjunto com um aplicativo no celular e que permite que ela faça um teste fisiológico todas as manhãs, que lhe orientam sobre o que deve ou não ser feito naquele dia de treinos.

Até agora, o UFC calcula que 30% de seu plantel já passou por testes no PI. Mas com a propaganda boca a boca e os ótimos resultados que têm sido propagados pelos atletas que passaram por lá, tudo leva a crer que em breve todo o plantel do evento terá sido estudado. De posse desta enorme database analisada por alguns dos melhores profissionais do mundo da área esportiva, não há dúvida alguma que esta enorme pesquisa científica resultará num salto qualitativo gigantesco para o esporte, que poderá ser notado diretamente pelos fãs na melhora da performance dos atletas, na diminuição das contusões e no aumento de sua longevidade.

A maior prova do sucesso deste investimento em ciência feito pelo UFC é que hoje o PI passou a ser uma referência para diversos outros esportes. Tanto que atletas olímpicos de diversas modalidades têm procurado o local para avaliações.

Os excelentes resultados deste primeiro Instituto de Performance motivaram o UFC a investir numa segunda sede que está em construção na China e terá uma área três vezes maior que a de Las Vegas, tendo papel fundamental não só na ampliação do estudo científico do esporte mas também na expansão do UFC em direção ao mais promissor mercado do mundo.

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