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Quem é Lincoln Nunes, o preparador mental de Johnny Walker

O especialista usa técnicas de coaching, de hipnose e de programação neurolinguística para melhorar a performance de atletas de elite

O que diferencia um lutador de outro? O que faz com que alguns atletas se destaquem e conquistem várias vitórias enquanto outros, com a mesma capacidade técnica e a mesma qualidade de treinamento físico, não conseguem muitas vezes decolar a carreira?

A resposta está na cabeça. É o que afirma o coach mental Lincoln Nunes, que tem entre seus clientes atletas da seleção brasileira de natação, multicampeões mundiais de jiu-jítsu e lutadores como Johnny Walker, que o contratou para o camp contra o ucraniano Nikita Krylov no UFC Brasília, em 14 de março.

“O atleta que está fisicamente bem preparado pode fazer coisas incríveis”, diz ele. “Mas o atleta que consegue conectar o corpo a uma mente fortalecida é capaz de gerenciar melhor as emoções e tem resultados excepcionais, extraordinários.”

Lincoln diz que foi baseado na própria experiência que ele passou a prestar atenção no poder de uma mente blindada. Quando ainda trabalhava como advogado em um escritório que mantinha com um sócio, em 2013, ele começou a praticar jiu-jítsu e apaixonou-se pelo esporte. Resolveu aproveitar a competitividade que era inata e passou a participar de torneios.

“Comecei a ter bons resultados sem treinar da forma que o atleta que me desafiava treinava. Eles treinavam cinco vezes por semana. Eu, apenas três. E sempre tive resultados expressivos”, conta. “Na época, meu professor ficou intrigado com aquilo. A única coisa que eu achava que fazia diferente dos outros era trabalhar minha parte mental.”

Lincoln explica que a “culpa” é de sua autoconfiança. “Quando piso no tatame, a única certeza que tenho é que vou destruir, aniquilar, destroçar meu adversário. Tenho muita humildade e muito respeito, mas minha autoconfiança é muito elevada.”

Faltaria lugar no pódio para atleta se só a parte física contasse por que todos treinam duro. O que diferencia um atleta que fica no meio do caminho de um que chega lá? Ficou claro para mim que é a parte mental.

“Fiquei dormindo, comendo e bebendo com eles para entender como é o modelo de mundo do atleta, o que ele pensa, como ele age, quais suas limitações, quais os aprendizados durante o dia, como é a rotina”, ele diz. “Como trata seu técnico, seu pai, seus colegas de treino? Como reage às adversidades do dia a dia? Tudo isso tem a ver com os resultados que ele vai ter ao longo de sua jornada. Foi um dos maiores aprendizados que tive. Consegui antecipar vários e vários anos da minha jornada.”

Ele diz ter percebido que a parte mental é tão importante quanto a física. “Mas a maioria dos atletas só trabalha o corpo físico até a exaustão e esquece que o que coordena o corpo é a mente”, afirma. “Faltaria lugar no pódio para atleta se só a parte física contasse por que todos treinam duro. O que diferencia um atleta que fica no meio do caminho de um que chega lá? Ficou claro para mim que é a parte mental.”

Como funciona o Atleta de Elite?

Quando Lincoln é procurado por um atleta, a primeira coisa que faz é sentar-se com ele e entrevistá-lo longamente. “Tenho que entender qual é aquele momento dele, se está dormindo bem, se passa por problema pessoal, se tem crenças que o limitam, se tem alguma questão mais profunda e enraizada”, explica.

“Tenho que entender os pontos forte e os fracos, porque todo atleta tem espaço para melhoria”, continua. “Não importa quem seja, sempre há pontos a serem ajustados, seja através do controle das emoções, de problemas externos que ele não sabe lidar, problemas de relacionamento. Tenho que entender cada pensamento dele para usar a seu favor ou para entender o que precisa ser neutralizado. Onde ele quer chegar? O que deseja? O que está impedindo-o de atingir a máxima performance? Só na comunicação verbal e não-verbal já consigo saber muito sobre os resultados dele.”

Depois de conhecer isso tudo, Lincoln aplica seu método, que consiste em ferramentas baseadas na neurociência, em pesquisas científicas, em técnicas de coaching, de programação neurolinguística, de psicologia positiva e de hipnose. “O Atleta de Elite trabalha as questões internas do atleta que acabam impedindo ele de atingir o resultado. Trabalhamos quebra de crenças que limitam e focamos na questão de crenças fortalecedoras. É um processo muito profundo com base no autoconhecimento para o atleta evolua como ser humano e como atleta”, diz.

Lincoln afirma ser capaz de fazer com que o atleta entenda que há sabotadores internos que podem estar segurando-o. “Gerenciar o medo, o estresse, a ansiedade e outras emoções é fundamental para ele atingir a máxima performance.” O objetivo é fazer o atleta atingir o estado de flow.

Hein?

O conceito foi criado pelo psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi e está relacionado a um estado de concentração e foco acima do normal. “É um estado de êxtase atingido por pessoas que conseguem estar completamente envolvidas na tarefa que estão executando. Csikszentmihalyi defende que esse estado de concentração plena, em que a pessoa simplesmente esquece dos problemas e fica imerso numa alquimia mental executando aquilo que realmente veio para fazer no mundo, é o estado de flow”, explica Lincoln.

Com essas técnicas todas, Lincoln conta que é possível atingir o flow e “resgatar o melhor estado que o atleta já viveu”. “Procuro fazer com que o atleta encontre esse estado e entre nele de forma mais objetiva e mais rápida.” O que ele não quer, com isso, é que o lutador treine no que chama de “modo zumbi”, ou o automático. “Às vezes ele treina para cumprir tabela porque está com a cabeça nos problemas, no relacionamento, no problema financeiro, na dor que pode estar sentindo. Não está com a cabeça presente no estado atual. E deixa de evoluir. Minha tarefa é fazer com que ele encontre a forma de acessar esse estado quando treina ou está na competição.”

Segundo o coach, suas técnicas são todas mensuráveis. “Não existe nada mais efetivo que o resultado que o atleta traz depois de três meses trabalhando comigo e aplicando todas essas técnicas. Ele acaba indo para o campeonato e performando muito bem. Ele acaba validando no campo de batalha que meu método traz resultado para ele em termos de performance, de melhora de desempenho e de resultados. A melhor forma de eu saber se o que faço tem resultado ou não são os resultados dos meus atletas. Esse é o melhor termômetro.”