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Quem são e o que pretendem “As Minas do BJJ”?

Grupo de atletas nordestinas, que tem a lutadora Virna Jandiroba como madrinha, promove encontros mensais para empoderar mulheres por meio do esporte

O jiu-jítsu como ferramenta de empoderamento e de independência para as mulheres. Esta é a bandeira de um grupo que nasceu um ano atrás em Feira de Santana, na Bahia, e que hoje conta com 103 membros e tem Virna Jandiroba, que luta no dia 7 no UFC Washington, como madrinha. “As minas do BJJ” pretendem, ao fim e ao cabo, popularizar ainda mais a arte suave, especialmente entre as mulheres e principalmente no interior nordestino.

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A ideia de criar o grupo foi de duas apaixonadas pelo jiu-jítsu, Marina Mshigueme, a Japa, e Rebeca Campos, a Beka, que eram de equipes diferentes e se conheceram e viraram amigas ao se enfrentarem em um campeonato da arte marcial – no melhor espírito de que o esporte une as pessoas, e não as aparta.

“Nossa bandeira é que o jiu-jítsu chegue a todas as mulheres, que a oportunidade de vivenciar o jiu-jítsu seja uma experiência para quem quiser, sem preconceitos ou taxações – ainda mais aqui no Nordeste, principalmente no interior, em que muitas mulheres ainda não tomaram conhecimento do quanto podem ser independentes”, afirma Leienny Nunes, 21 anos, uma das administradoras da turma, ao lado da amiga Karla Dias (ambas também são de equipes distintas).

“O jiu-jítsu é uma ferramenta para isso”, ela explica. “Mas, por ser um ambiente de predominância masculina, nem todas as mulheres têm essa oportunidade. Ou, se têm, ela não se dá de maneira justa e eficaz para que elas permaneçam [nos treinos]. Para isso temos que ser unidas: a rivalidade fica apenas e exclusivamente para os campeonatos em cima do tatame. Fora de lá, somos jiu-jiteiras que buscam evoluir juntas para que o nosso esporte cresça e para que aumente o número de mulheres faixas pretas.”

Leienny treina jiu-jítsu desde os 13 anos, quando foi levada pelo pai durante um período de férias escolares. “Naturalmente se tornou parte de minha vida e de quem eu sou, até porque o jiu-jítsu, sua filosofia e seu próprio significado, ‘arte suave’ têm grande participação na minha rotina familiar. O esporte ensina bem mais que apenas golpes – ele me ofereceu um estilo de vida.”

A atleta diz que sempre gostou de treinar duro para evoluir, e o caminho das competições surgiu daí, com o incentivo de seu pai e de seu sensei. “O esporte me ofereceu novos ares e um olhar diferente sobre o meu papel no mundo, pois, apesar de o jiu-jítsu em seu ambiente competitivo ser individual, todos nós sabemos que ele prega a comunhão como uma espécie de família.”

É exatamente essa ideia que As Minas do BJJ pretende disseminar por aí. Toda a comunicação delas se dá por meio de um grupo de WhatsApp. Os treinos que elas proporcionam são abertos e divulgados nesta página do Instagram. Elas se reúnem uma vez por mês, em Feira de Santana, onde a maior parte delas mora, e elas pedem às participantes um quilo de alimento, que é destinado para uma entidade social.

“Tentamos nos reunir uma vez por mês em locais e academias diferentes, com professores de equipes distintas, agregando o máximo de equipes que conseguirmos”, afirma Leienny. “Estamos nos organizando para fazer treinos em outras cidades da região, porque muitas meninas vêm de outros locais para participar e agora queremos visitar cada cidade que contempla as meninas do movimento e do grupo das Minas do BJJ.”

A lutadora vê vantagens do ponto de vista técnico nos treinões apenas para mulheres. “Temos ciência que biologicamente a força dos homens é superior à força das mulheres, e como muitas de nós só treinam com homens, na maior parte das vezes ficamos sem parâmetros para nossa evolução ou então aplicamos mais a força do que é preciso segundo a técnica correta”, afirma.

Mas os argumentos motivacionais, de acordo com Leienny, são tão importantes quanto os técnicos. “Às vezes, parece solitário estar no tatame sozinha, ter a sensação de quem ninguém passa pelo que você está passando pelo fato de todos serem homens”, ela conta. “Quando treinamos juntas, percebemos que todas passam pelas mesmas coisas. Você encontra jiu-jiteiras que viraram mães e conseguiram continuar. Ou faixas brancas que encontram faixas azul, roxa, marrom e acreditam na possibilidade de atingirem uma graduação maior.”

Ela diz que As Minas do BJJ também prestam uma homenagem às mulheres que desbravaram esse oceano antes delas. “As que são faixa-preta hoje não desistiram quando era ainda mais difícil. Uma delas é a madrinha do grupo, a Virna Jandiroba, nossa ‘Carcará’.”

Virna conta que se sente honrada em poder ser uma inspiração para as atletas. “Acho essa ideia de agregar as meninas e fortalecer o jiu-jítsu no Nordeste superfantástica, maravilhosa”, diz a lutadora do UFC. “As mulheres estão em todos os espaços, inclusive dentro das academias. Ter essa representativa é importante”, acredita.

“Sou uma das primeiras faixas-pretas aqui da Bahia, das mais antigas, e elas me têm como referência. Me sinto súper, súper, superorgulhosa e feliz – e até vaidosa – por elas me batizarem, digamos assim, como madrinha do grupo”, continua Virna. “Muitas outras mulheres vieram antes de mim no jiu-jítsu. Por exemplo, a Ana Maria Índia. Eu ouvia falar dela e admirava. Pensava: pô, que legal, a menina é casca grossa, é faixa-preta. Isso nos faz acreditar que a gente pode ser também. Tenho essa responsabilidade, essa dívida, na verdade, porque outras vieram antes de mim.”

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