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Blog do Marcelo Alonso

UFC 1: Os 26 anos da grande revolução das artes marciais

O fã que começou a acompanhar o MMA há cinco ou 10 anos talvez considere exagero a clássica divisão da história das artes marciais em “antes e depois do UFC 1”. Coincidentemente comecei a cobrir lutas em 1992 e pude acompanhar de perto ambas realidades, por isso não tenho dúvidas em afirmar que não há nenhum exagero nesta afirmação.

O fato é que, até o dia 12 de novembro de 1993, a única “referência real” que o mundo tinha das lutas eram os filmes de Bruce Lee, por isso o grande público sequer cogitava a possibilidade de um combate de verdade ser definida no solo. Rorion Gracie, filho mais velho de Hélio Gracie, sabia que a única maneira de mostrar que a realidade era bem diferente dos filmes de Hollywood seria provando na prática, como sua família fazia há mais de 70 anos no Brasil.

Contando, hoje parece até fácil, mas imaginem a credibilidade de um latino que chega aos EUA nos anos 80 prometendo ensinar uma arte marcial que neutraliza as técnicas de striking e define os combates no solo. Pois é. Depois de engolir muitas gargalhadas e comentários xenófobos e irônicos, Rorion percebeu que, por melhor que fosse seu produto, não conseguiria vendê-lo sem uma boa embalagem de marketing. Depois de 10 anos de desafios e muitas horas de aula em sua garagem, o brasileiro criou a fita Gracie in Action e, com a ajuda do aluno Art Davie, e o apoio financeiro de 95 alunos, que lhe emprestaram 200 mil dólares, criou o torneio Ultimate Fighting Championship, confrontando oito representantes de diversos estilos marciais, sem regras, sem tempo e sem limite de peso.

Definitivamente não poderia haver marketing melhor que “dois entram e só um sai” para fazer os fãs norte-americanos entenderem o conceito de eficiência. Principalmente quando o vencedor do torneio é o mais leve dos oito lutadores, único a usar kimono, e que precisa de pouco mais de cinco minutos para obrigar seus três oponentes, todos bem mais pesados, a desistirem com três tapinhas.

Depois de derrubar e finalizar rapidamente o boxer Art Jimmerson (2m18s), que entrou no Octógono com apenas uma das luvas, Royce só precisou de 57 segundos para aplicar um mata-leão no musculoso Ken Shamrock na semifinal. Na grande final, o brasileiro enfrentou o holandês Gerard Gordeau, representante do Savate, que havia arrancado um dente do gigantesco Teila Tuli (188kg) na primeira luta, em apenas 26 segundos, e nocauteado o representante do karatê Kevin Rosier na semifinal, em apenas 59 segundos. Do clinch aos três tapinhas em decorrência de um bem aplicado mata-leão, o brasileiro só precisou de 1min44s.

O cheque de 50 mil dólares e o excelente retorno de PPV foram simbólicos para os irmãos Royce e Rorion. Mas na realidade o grande vitorioso daquela noite foi o Jiu-Jitsu Gracie, que derrubou um paradigma, que parecia inabalável até então, ao mostrar ao mundo que uma luta real também se define no chão.

A homenagem a Hélio Gracie

Apesar da noite consagradora, o momento de maior emoção para Rorion Gracie naquele show foi a homenagem feita a seu pai, que recebeu de suas mãos uma placa, no centro do Octógono. Diante de uma vaia ensurdecedora dos fãs norte-americanos, que obviamente não tinham a menor ideia da importância daquele momento, Hélio agradeceu ao irmão Carlos e o apoio dos filhos e todos os familiares naquela saga de batalhas que conduziria a consagração mundial da arte marcial que lhe havia sido ensinada por Conde Koma e para a qual dedicou sua vida.

Por mais otimista que fosse, obviamente nem Hélio nem Rorion imaginavam a que ponto chegaria sua criação 26 anos mais tarde. Além de toda a revolução na história das artes marciais, o UFC deu origem a um esporte que hoje emprega milhares de profissionais no mundo todo e todas as semanas proporciona entretenimento para milhares de fãs ao redor do globo.

Uma história que deveria ser motivo de orgulho para todo cidadão brasileiro e que agora será contada nos cinemas. O projeto financiado pela WME IMG e pela Mandalay Sports Media (MSM) deve chegar às telonas ainda em 2020 permitindo assim que todas as gerações de fãs conheçam, ou relembrem, a verdadeira origem do UFC e do MMA.

*Com imagens de Susumu Nagao.

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