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Blog do Marcelo Alonso

Chega de benevolência com o “dedo no olho”

A sexta edição do UFC México se encaminhava para ser uma das gratas surpresas do ano, com lutas surpreendentemente emocionantes até que, na luta principal, aos 16 segundos de combate, o dono da casa Yair Rodríguez resvalou seu dedo indicador no olho esquerdo de Jeremy Stephens. O que aconteceu a partir daí foi, sem dúvida, um dos maiores anti-clímax da história do UFC. Como Stephens não conseguiu abrir os olhos, o árbitro Herb Dean foi obrigado a interromper o combate, decretando o no contest (luta sem resultado).

Poderia dedicar o texto de hoje a criticar a atitude de Yair Rodríguez, que não só cometeu a falta, como incitou sua torcida contra a organização, mas acho mais produtivo promover um debate construtivo sobre a origem de todo o transtorno e como combatê-lo. Até porque, se parasse para criticar a atitude dos mexicanos, teria que relembrar dezenas de eventos de Vale-Tudo que cobri nos 90 pelo interior do Brasil, onde vi “voar” objetos muito maiores do que os jogados pela torcida mexicana no sábado. E por motivos bem menos “justificáveis”. Além do mais, a atitude da torcida local já foi amplamente debatido na internet.

O mais grave nesta história toda não é a maneira como o evento terminou, mas a freqüência com que a falta que causou este desfecho tem ocorrido no MMA. Pare para pensar quantas vezes nos últimos anos você debateu com colegas se uma dedada no olho foi definitiva para o resultado de uma luta (ou round). De cabeça, enumero pelo menos 10 casos: Yoel Romero x Paulo Borrachinha, Jon Jones x Glover Teixeira, Urijah Faber x Francisco Rivera, Rafael dos Anjos x Tony Ferguson, Edson Barbosa x Justin Gaethje, Fabrício Werdum x Travis Browne, Michael Bisping x Alan Belcher, Cro Cop x Mustafá Al Turk, Anthony Johnson x Kevin Burns, Travis Browne x Matt Mitrione.

Para aqueles que acharam, no último sábado, que um casca-grossa da estirpe de Jeremy Stephens, que tem 44 lutas no cartel e já enfrentou os maiores nomes dos penas e leves, possa ter amarelado, convido-os a dar uma olhada nas lutas acima no Combate Play e se colocar no lugar de todos os atletas que levaram a dedada. No calor da luta, observe que quase todos tem o reflexo de pedir que o árbitro reinicie o combate o quanto antes, mesmo sem ter certeza que estão enxergando perfeitamente. O resultado deste reinício “desconcentrado” é, normalmente, uma queda de rendimento que pode custar o round ou a luta. Sempre beneficiando o infrator.

Esse absurdo precisa ser coibido urgentemente! Não faz sentido que o esporte profissional que mais combate o doping, e que hoje está na vanguarda até na questão do investimento científico em prol dos seus protagonistas, continue debatendo, com tamanha frequência, sobre uma falta que pode levar até a cegueira de um atleta.

E o caminho para reduzir ao máximo estas faltas é simplesmente cobrar que os árbitros cumpram as diretrizes definidas na última reunião da ABC onde todas as comissões atléticas aprovaram que os árbitros passem a penalizar com a retirada de um ponto todo lutador que estiver com a mão espalmada na altura dos olhos do oponente (situação de risco). Se, após ser advertido pelo árbitro, o atleta continuar incorrendo na falta, deverá ser punido com a perda de um ponto, mesmo que ainda não tenha atingido os olhos do oponente.

Na prática, os árbitros têm optado por advertir o atleta e só começam a tirar pontos após a primeira dedada. Na realidade, muitos só tiram pontos a partir da segunda dedada. É óbvio ululante que tamanha benevolência na aplicação das regras não tem mudado o comportamento dos atletas.

Que o ocorrido no UFC México sirva para que as comissões passem a exigir maior rigor de seus árbitros, antes que um incidente mais grave impeça um atleta de continuar exercendo sua profissão e volte a atrair os holofotes da grande mídia, de maneira negativa, para o nosso esporte.

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