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Entrevistas

O nome dela é Jennifer Maia

Quem é a atleta curitibana que tem o marido como técnico e quer ser a terceira campeã brasileira do UFC, mas sem pular etapas

Subir no Octógono. Sentir todas as luzes da arena voltadas para si. Ver a porta sendo fechada. Ouvir o grito da plateia. Olhar no olho da adversária. Respirar e colocar em prática, para todo mundo ver, tudo o que aprendeu em sua vida – e ao que se dedica diariamente a evoluir. É porque ama essas sensações que a curitibana Jennifer Maia luta. E é por poder senti-las mais uma vez que ela encara neste sábado, no UFC San Antonio, a americana Roxanne Modafferi.

Jennifer sabe que é difícil para quem não é lutador entender essa motivação. “Ainda como amadora, quando comecei a ter vitória após vitória, me apaixonei pela sensação que se tem ao lutar”, ela conta, do Texas, logo após a pesagem – e de não ter batido o peso e, por isso, ter que deixar 30% de sua bolsa com sua adversária (parêntese para contar que, sobre isso, Jennifer explicou: “Organismo de mulher é complicado, né? Nem sempre as coisas saem como planejamos. Como tudo tem uma primeira vez, desta aconteceu isso. Meu organismo deu uma travada no corte de peso e não consegui concluir como o esperado).

“Acho que só quem é lutador entende essa coisa maravilhosa de subir num octagon e colocar tudo o que você treina em prática. E de saber que, apesar de ser apenas eu e minha adversária, não estou lá sozinha, porque você leva junto todo o trabalho de uma grande equipe. Independentemente do resultado, a gente quer sempre mostrar o trabalho bem-feito”, continua a atleta. Mas sabe: “Claro, as vitórias me levaram mais longe”.

A atleta peso-mosca começou a lutar por ter se apaixonado pelo muay thai. Entrou nas aulas na tradicional equipe curitibana Chute Boxe aos 15 anos e foi amor ao primeiro treino. “Sempre gostei de esportes e fui para o muay thai por causa das minhas amigas. Até parei de jogar futebol porque tinha medo de me machucar e não poder treinar. Sentia que, quando faltava, minhas amigas ficavam na minha frente nos treinos, por isso não queria deixar de ir. E nunca mais parei de treinar.”

Ajudou Jennifer o fato de ela ter em si um espírito competitivo. “Começaram a aparecer eventos amadores de luta. Meu técnico, Ed Monstro, disse que colocaria para lutar quem estivesse treinando bem. Passei a me esforçar o máximo para ele ver que eu tinha essa vontade de lutar também. E ele começou a me chamar e passei a fazer lutas amadoras”, relembra. As vitórias vieram, uma após uma. “Percebi que levava jeito quando essas vitórias seguidas começaram a vir. Me tornei profissional sem nunca ter perdido no muay thai e no boxe”, ela conta sobre a época da profissionalização, em 2009.

No começo, Jennifer enfrentou certa resistência da família, que achava que viver de luta não garantia o futuro de ninguém. “Era a época em que eu ia começar a trabalhar. Meu técnico então me ajudou a começar dar aula de muay thai. E eu tive que ir provando para eles que eu me daria bem, ter uma vida boa na luta, me destacar. Quando eles viram que eu estava feliz, que estava conseguindo me manter sem precisar de dinheiro da família, tudo foi mais fácil.”

Tanto tempo com o técnico criou entre eles uma intimidade e uma cumplicidade que evoluiu para um namoro – o relacionamento de Jennifer com Ed Carlos Monstro já tem 13 anos. “Estávamos sempre juntos nos eventos e acabamos nos aproximando e nos apaixonando”, diz ela, ressaltando: eles sempre souberam separar a relação profissional da pessoal.

Jennifer, aliás, diz que Ed é até mais duro com ela do que com os demais atletas da equipe. “A cobrança comigo às vezes é até um pouco maior para não parecer que eu sou a queridinha dele só porque a gente tem uma relação”, conta. O que, poderia parecer uma desvantagem é, para Jennifer, um bônus: “Sinto que foi essa cobrança que me fez chegar aonde cheguei. Ele se tornou um benefício, porque fui mais longe”. 

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A luta em San Antonio é o terceiro combate de Jennifer pelo UFC, que perdeu em sua estreia para Liz Carmouche, mas venceu Alexis Davis em março último. “Consegui trabalhar minha cabeça para a segunda luta e a vitória veio. Agora estou com foco, já sei como o UFC funciona e estou muito a fim de mais uma vitória e de conquistar ainda mais espaço dentro do evento. Almejo trazer mais um cinturão para o Brasil, mas estou subindo um degrau de cada vez até chegar lá. Acredito que o Brasil vai ter em cada categoria uma campeã.”

Ela já sabe, porém, que não vai ter uma carreira longa – a maternidade está em nos planos da atleta de 30 anos. “Quero ter filhos e acho que ter filho e ser atleta não combinam muito, porque quero curtir muito ele. Então estou indo até conseguir chegar no topo. Depois vou curtir um pouco o topo até achar que chegou a hora de fazer meus projetos de mulher, como ser mãe.”

Mesmo assim, ela pretende continuar no meio da luta. “Mesmo que daqui uns anos eu pare de lutar, vou dar aula e acompanhar os atletas com meu marido. Sou formada em educação física e quero trabalhar o preparo deles. A gente vai estar sempre junto e misturado no meio da luta.” 

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